terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Resgatando...

Em 2002 estava ainda na escola. Tinha uma professora de Português fantástica, que sofre de entusiasmo, assim como eu. De gramática, muito pouco, mas de jornal da escola - por quem éramos apaixonadas -, de música, literatura, cultura e arte, um monte! E foi assim que surgiu o texto abaixo, em ocasião da leitura de Noites Tropicais, de Nelson Motta.
Ele foi publicado na Carpe Diem, revista cultural que fazíamos aos trancos e barrancos, e agora o resgato para cá.
Lembrando que a história é verídica!

Tim Maia (virou) meu amigo

“Você é algo assim/ é tudo pra mim/ é como eu sonhava, baby”

O tempo passa, a sociedade evolui e, ano após ano, por volta dos meses de maio e junho, escutamos esses mesmos versos em alguma campanha publicitária, seja ela de Dia das Mães ou de Dia dos Namorados. Quem quiser que chame de brega, mas para mim ainda é música e poesia de muito boa qualidade, originalmente cantada por uma das vozes mais intensas da música brasileira.

Com uma vida tão intensa quanto sua própria voz, Sebastião Rodrigues Maia, nacionalmente conhecido como Tim Maia, foi um grande personagem, também famoso por sua máxima “Mais grave, mais agudo, mais eco, mais retorno, mais tudo!” (que, aliás, são as primeiras palavras do livro Noites Tropicais, de Nelson Motta). Ele era uma figura peculiar no mundo da música: um homenzarrão gordo, negro, espontâneo, que chamava até mesmo seus amigos mais íntimos por nome e sobrenome! E, além disso, era o único a poder oferecer entorpecente (mais especificamente, LSD) ao diretor da gravadora sem ser levado preso, nem sequer demitido!Tendo vivido muitos anos em bairros pobres dos Estados Unidos e lá conhecendo a música soul, fez muito sucesso no Brasil dos anos 80 com as famosas “Primavera” e “Azul da cor do mar”. E é nesse ponto que entro eu na história!

Sendo eu nascida em 1984, era muito pequena quando Tim Maia fazia sucesso. Em minha casa, porém, quando meus pais não estavam trabalhando, sempre se ouvia a voz grave de Tim (e talvez por isso até hoje suas músicas me lembrem manhãs de sábado e de domingo) que, por sinal, sempre me agradou muito. E eu gostava tanto dele que, por um certo tempo em minha vida, meu amigo imaginário era ninguém menos que Tim Maia! Desenvolvemos uma relação tão forte que ele almoçava comigo, brincávamos juntos e, à tardinha, quando minha avó ia me dar banho, era preciso esperar que ele tomasse primeiro! Lanche da tarde e prato do almoço, era um para mim, e outro para Tim Maia! E eu, com minha inocência pueril, perguntava à minha família sempre que o via na tv: “Ele não é bonitinho?” esperando, claro, uma resposta afirmativa. Mas eu cresci, e Tim Maia aos poucos foi se despedindo de mim, até virar o que hoje meus pais contam de nossa amizade.

O verdadeiro Tim Maia morreu em 1998, sem nem desconfiar que tinha sido amigo de uma menininha de três anos de idade, e muito antes que eu pudesse lhe contar, mas deixou como lembrança mais que seus discos com sua “voz de trovão” (como diria outro amigo seu).

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008