quinta-feira, 24 de julho de 2008

Do findi - 2ª parte

... (leia a 1ª parte aqui)


- Grummhpf

- Ai, Mozão, você é lindo! Obrigada! Agora boa noite.

Dormi e sonhei a noite inteira com motos, andar de moto, conversar sobre moto etc etc etc. Acordei cansada, mas cheia de disposição para ir à feira*. Marquei com uma amiga minha, armei com o Namo toda a estratégia de guerra para ele pegar meu carro e me deixar lá. Quando ele fosse me buscar, compraríamos os ingressos para o espetáculo de dança da noite. Eu não podia ir sozinha por dois motivos: 1) não é possível encontrar vagas para estacionar o carro a menos de um quilômetro e meio da feira e 2) era fundamental que os três comprássemos os ingressos juntos por uma questão de carteirinhas de estudantes, lugares juntos, melhor posição dentro do teatro... E, assim, ficamos combinados que eu ligaria para ele na hora em que estivesse pronta para ir embora.

Algumas horas depois, minha amiga e eu já havíamos encontrado de tudo: bolsa, sandália, outra sandália, outra ainda, Fábio Martins** com sua Senhoura passeando na feira (juro!), e nada de sapatinho, nem de carteira vermelha, que era o que tínhamos ido comprar. Decidimos, então, ir para o Palácio das Artes, para os ingressos, mas descobrimos que a bilheteria estava fechada e só abriria às 14h. A essas alturas, eu já havia ligado para o Namo, que já tinha até estacionado o carro e só não estava vindo nos encontrar porque eu já o havia dito que não poderíamos comprar os ingressos naquela hora. Minha amiga foi embora, e eu ainda girei um pouco por lá, na esperança de achar a bendita carteira. Por isso, me atrasei (muito) para ir encontrar o Namo, que já estava furibundo.

Subindo a Afonso Pena, uma senhora olha para trás, na minha direção.

- Você tá indo pra onde??

Sem saber se a senhora era estrábica e estava falando com a pessoa que estava atrás de mim, ou se era comigo mesmo, olhei em volta, para todos os lados.

- ? ... Eu?


- É, você!

- ... Estou indo ali para cima...

- Ah, eu também. Você que é nova pode ir correndo. Meu joelho já não agüenta mais isso, não.

Sendo assim, continuei... Estava realmente andando rápido, consciente que qualquer minuto mais cedo que chegasse até o Namo, seria um centímetro a menos de tromba para encarar durante a tarde.

Quando parei na esquina em que havíamos combinado de nos encontrar, nada de Namo. Liguei para ele e descobri que ele estava com o carro estacionado um quarteirão acima daquele ponto.

- Então vem para cá, Mozão, porque aqui é caminho mesmo...

- Gruarrrr

E estava eu lá, bonitinha, paradinha, quando de repente, não mais que de repente, ouço:

- Ué, parou???

Era ela, a mulher de dois quarteirões antes.

- É... a pessoa ainda não chegou para me pegar...

- E você está indo para onde??

- Uai... Daqui vou para a minha casa...

- Ah... ... ... E você vai subir aqui???

- Ahn... Não sei... Preciso ver com o rapaz que vem me buscar... (realmente não sabia, estávamos indo para a casa do pai dele)

- Me dá carona? Quando eu estiver de carro eu te dou! (Nota da autora: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

- Olha... vou ver com ele... Se a gente for por esse caminho, eu dou..., falei, esperando que o Namo dissesse simplesmente que não, ou que seguisse por um caminho diferente, que não passasse por onde ela queria.

Dois minutos depois e vejo aquele carrinho sujo, empoeirado, cagado de passarinho. Reconheci Zé Bento (sim, meu carro também tem nome) de longe: "É ele". Imediatamente após ele ter estacionado, a senhora se jogou com meio corpo para dentro da janela do carro, perguntando se nós iríamos subir a Afonso Pena e pedindo carona como se nos conhecesse há anos!

- Claro, entra aí! Na verdade, eu ia seguir a Alfredo Balena, mas não tem problema, não. (Nota da autora: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

E ela entrou, com suas vinte e três sacolas plásticas, seus tênis, sua calça de ginástica e seus cabelos tingidos de louro, no banco de trás do Zé Bento. Em aproximadamente quatro minutos, que foi quanto durou o trajeto, ela nos contou sua vida inteira:

Mãe-de-três-filhos-dois-formados-uma-publicitária-desempregada-que-estava-em-dúvida-entre-fazer-uma-pós-no-exterior-ou-prestar-vestibular-para-Medicina-o-pai-disse-que-paga-particular-então-faz-minha-filha-sabia-que-quem-é-formado-em-educação-física-já-entra-no-segundo-ano-de-Medicina-nessa-faculdade?-então-tá-obrigada-tchau-viu!

Oito letras para essa cena: SEM NOÇÃO!

Meio atônitos, Namo e eu seguimos nosso rumo, eu ainda tentando convencê-lo de que os bombons que eu havia comprado para ele eram motivo suficiente para ele desculpar meu atraso/erro de cálculo, e ele resmungando/rosnando/reclamando/choramingando.


A notícia "boa" era que ainda teríamos que voltar naquele mesmo cenário hostil dali a cerca de três horas para comprar os ingressos para o espetáculo que queríamos assistir à noite.

tobecontinued...



*Para quem não conhece, BH tem uma enorme feira de artesanatos todos os domingos, em que se pode encontrar de móveis para casa a sapatos. De acarajé a bombom hidrogenado. De brinquedo educativo a carteiras. De quadros de gosto duvidoso a bijouterias de prata peruana...

** Fábio Martins é um professor do Curso de Comunicação Social da UFMG que deve ter, atualmente, por volta de seus 75 anos. Ele foi aposentado compulsoriamente da Universidade, mas continua trabalhando como Professor voluntário. Breve descrição: cabelo branco -amarelado, barba bem feita, voz de locutor (ele é o antológico radialista que soube do Golpe de 64 na véspera!), calça social clara, camisa social de manga curta listrada e sapato social marrom.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Do findi - 1ª parte

Terminado o fim-de-semana, eu estava certa de que escreveria um post sobre ele. Primeiro, pensei em falar sobre o sábado, em que fui aplicada ao clube de motociclistas (e ai de quem disser “motoqueiros”) do Namo. Mas como deixar de fora o episódio da “feira hippie” domingo de manhã? Ou o fantástico espetáculo da Mimulus Cimpanhia de Dança, à noite? Por isso, no melhor estilo robgordiano (veja aqui ao que me refiro), me resolvi por uma saga. Nada como as do referido, mas simplesmente um supertexto – em tamanho ao menos – dividido em partes, para vocês saberem do meu findi (a quem possa interessar...)

Antes de falar sobre o sábado, é necessário dizer que o Namo é um aficionado por motos. Nosso segundo beijo foi apoiados sobre a sua antiga Sahara branca (que eu apelidei de Cavalo Branco Hi-tech, porque todo Príncipe Encantado precisa de um cavalo branco), ele reconhece o modelo da moto só de ouvir o barulho, me troca por ficar procurando peças para a moto dele na internet etc etc etc.

Por causa desse gosto do Namo pelas motocas ele passou a freqüentar um motoclube. Todas as quartas-feiras ele vai ao clube do Bolinha, toma umas Coca-Colas – culpa da lei seca – e vem para a minha casa dormir. E, acreditem, ele vem dormir.

É aí, quando o motoclube entra em questão, que começa meu sábado.

- Amor, você vai pro Rio esse fim-de-semana?


- Vou, não, Benzão.

- Então nós vamos ao encontro do pessoal do clube lá em Matozinhos.

Democraticamente resolvido isso, eu resolvi que não iríamos carregar barraca de acampamento, dois colchões infláveis, um saco de dormir e um edredom, além de roupas, em cima da moto para dormirmos lá.

Acordamos sábado de manhã, vestimos as armaduras e fomos para o ponto de encontro do pessoal para irmos juntos para o local do evento. Até para mim, que sou leiga no assunto, foi fácil reconhecer onde estavam os “meninos” (e o Namo sabe o porquê das aspas). Uma moto maior que a outra, um motociclista mais equipado que o outro, e várias trouxas de coisas penduradas em vários dos lados dos bi-rodas.

Conheci os primeiros integrantes do clubinho e fiquei satisfeita, aliviada e contente por serem todos muito divertidos e receptivos. Ficamos ainda uns minutos lá esperando os outros que ainda não haviam chegado. Vinte minutos de conversa depois e o assunto ainda não tinha variado uma vírgula: motos. Juro que cheguei a pensar “Será que vai ser isso o dia inteiro?” Mas logo depois o grupo estava completo e nós partimos.

Nas várias vezes em que peguei a BR-040 indo para o Rio ou voltando para BH, não raro vejo um grande grupo de motos, com caras super equipados em cima. E confesso sempre ter achado muito legal. Mas legal mesmo era, agora, estar dentro de um desses grupos. Os “meninos” puxando a fila e a gente seguindo. Interessante reparar no companheirismo, no senso de proteção de uns com os outros, nas linguagens que usam para se comunicar.

Sessenta quilômetros de estrada de asfalto e um de estrada de terra depois, eis que chegamos ao sítio onde se deu o encontro. Canequinhas com a logo do evento, pessoal uniformizado, muito churrasco, cerveja rolando, papo – sim, sobre motos, sempre – muita gente legal e, quando vi, já estava na hora de voltar para BH. “Ah, Namo, da próxima vez a gente fica pra dormir...”

Vesti a parafernalha (bota, meião, caneleira, calça comprida, blusa de manga, casacão, cachecol, touca de frio, capacete, óculos) toda de novo e montei na Celestina (sim, a moto do Namo tem nome). Só senti tamanha dor na bunda – naquele ossinho que dói quando se anda de bicicleta depois de muito tempo – em Bolonha, justamente no segundo dia andando de bici para cima e para baixo. Quase quis voltar para casa caminhando, mas era realmente inviável, então fiz a viagem toda de menesguei, revezando qual lado da bunda ficava socando na moto.


Chegamos em casa cedo, mas completamente acabados de cansaço. Minha boca estava coberta de pó de asfalto, e eu só tive energia para tomar um banho e dormir.

- Benzão, me leva na feira amanhã cedo?

tobecontinued...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Projeto 2008

Sei que estamos em julho, e os planos de ano novo já foram feitos há muito tempo pela maioria das pessoas. Porém, meu ano novo começou oficialmente em março. Mais precisamente lá pelo dia 15, que foi quando eu cheguei por inteiro no Brasil*. E, junto comigo, chegaram meus projetos para 2008. Arrumar um estágio, juntar dinheiro para viajar mais, ser uma Relações Públicas e, obviamente, o Projeto Corpão 2008.

Se você está pensando em ver uma Kel gostosona em alguns meses, esqueça. O projeto nada mais é do que eu dar um jeito de permanecer nos 59 quilos e não ficar flácida. E, após oito meses comendo de tudo no Velho Mundo, eu realmente precisava de alguma ação nesse sentido.

Meus planos começaram muito bem. Algumas semanas após meu retorno, eu enfiei na cabeça que iria começar a fazer aulas de circo. E comecei! Apesar de ser 100% diversão e de ter me dado muquinhos nos braços após um mês de aulas, percebi que o circo não me ajudaria a voltar para a quinta dezena na balança.

Conversando com uma amiga e elogiando sua forma física, ela me contou que havia começado a correr. Pronto. Eu havia encontrado o segundo pilar do Projeto Corpão 2008! Naquela mesma semana, coloquei meus tênis, enchi o iPod de musiquinhas animadas e fui à luta!

No primeiro dia, queria morrer. Juro! Depois de meia hora entercalando corridinhas e caminhada, cheguei em casa vermelha, com a língua pendurada igual a uma gravata. Isso sem falar nos pés, que somavam um total de seis bolhas. Mesmo assim, insisti e corri mais duas vezes naquela semana. E ainda que eu mumificasse meus pés com band-aids, não houve Cristo que fizesse as bolhas pararem de surgir. O jeito foi dar um tempo até meus pés melhorarem. E comprar um tênis novo (aventura que foi narrada nesse post aqui).

Quando as bolhas já estavam saradinhas, veio a gripe. Fiquei três dias de cama (como também já contei em outro post) e achei que fosse ser o fim do meu projeto. Para minha surpresa, a gripe me fez um bem danado: devo ter emagrecido uns dois quilos, pelo que me dizem minhas calças e o espelhão do banheiro!

Recuperada, voltei a correr anteontem. Quis morrer de novo, principalmente porque ainda estou com um quê de tosse e fico ofegante só de subir um lance de escada. Mas fiquei muito feliz de não ter abandonado essa etapa dos planos. O tênis novo é ótimo, e o iPod ainda tinha músicas inéditas a serem escutadas. Tomei meu merecido banho obstinada a manter o ritmo, e fazer esse exercício três vezes por semana. Hoje deixei de ir para escrever o post (não precisa falar, eu sei). Mas ainda está em tempo, a semana está pela metade! Wish me luck, people!




*Para quem não sabe, fiz intercâmbio na Italia no segundo semestre do ano passado e ele se estendeu até essa data.

sábado, 12 de julho de 2008

Caros leitores,
não sei por que motivo bizarro o blogger deu pau e cortou um pedaço do meu último texto. Problema corrigido, e agora vocês vão achar menos que surtei definitivamente. Enjoy!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Surto de uma solteira-sozinha

Morar sozinho é uma situação que pode acabar se tornando até um pouco perigosa. O solteiro-sozinho adquire hábitos, manias, vícios, rituais que as demais pessoas não compreendem, e dos quais ele não consegue se desfazer facilmente. Fica meio anti-social mesmo. Assim sou eu, morando sozinha há alguns meses e cuidando de mim de forma independente de pais e família há esses meses mais oito anteriores.

No mundo do solteiro-sozinho, a presença de outras pessoas hospedadas dentro de casa pode ser um fato extremamente arrasador, que altera a rotina e desequilibra o dia-a-dia. A outra pessoa vem cheia de boas intenções, oferece ajuda, faz algumas coisas sem perguntar, guarda tudo o que está fora do lugar. Assim é quando minha mãe está passando uns dias comigo.

Enquanto tive papai e mamãe sob o mesmo teto, eu não sabia o que era lavar roupa (passar, não sei até hoje, pois visto tudo do jeito que sai do varal), cozinhar, lavar banheiro, varrer casa, lavar louça... Tudo isso, e tantas outras coisas que fazem parte do kit Cuide-da-Sua-Própria-Vida, eu tive que aprender na marra, enquanto morava a 12 mil quilômetros de casa. E aprendi. Aprendi tão bem que desenvolvi minhas próprias técnicas para cada uma dessas coisas. Peguemos como exemplo a lavagem das roupas. Tem que separar a lingerie do resto e colocá-las em um saquinho especial que impede que a máquina as estrague! Assim encontramos o primeiro problema da visita da minha mãe.

Ela chegou hoje de manhã, eram 6:30. E eu nem me importei de ela ter me ligado esse horário para saber a senha do alarme do prédio, me acordando no dia em que eu só iria trabalhar à tarde. Aliás, eu estava felicíssima em tê-la comigo. Estou ainda, na verdade. Mamãe tomou seu café-da-manhã e já partiu para suas boas ações de quando ela vem para cá: colocar as coisas em ordem, deixar feijão cozido no freezer, passar algumas roupas (que até estranham o tratamento). E a primeira ação do dia foi esvaziar meu cesto de roupas sujas.

Gracinha da parte dela, não é? Também acho. Mas estragar minha calcinha branca de rendinha, linda, que comprei em Bolonha é sacanagem! O fato de eu colocar a lingerie em um saquinho de telinha não é apenas rabugisse de solteiro. Isso tem um objetivo, que é, justamente, não estragar minhas calcinhas de renda, por exemplo!

Ok. A crise da calcinha não está superada, mas vamos em frente. Enquanto a roupa lavava, minha mãe e eu fomos ao supermercado, deixando recomendações à moça que faz faxina aqui em casa para que ela estendesse a roupa. Segundo ponto de atrito.

Acho que já está entendido que eu não passo as roupas. Mas, para isso, é necessário um cuidado cirúrgico no momento de estendê-las. Todas do lado certo, esticadinhas, sem pregador para não marcar, ocupando realmente o espaço que ocupam no varal (ou seja, nada de socar roupa em uma mesma cordinha para caberem mais peças). Regrinhas simples, de fácil compreensão e execução altamente possível. Menos para a moça que faz faxina aqui em casa. Além de ela ter pendurado todas (ênfase: TODAS) as roupas do lado avesso, ela ainda amontoou oito peças por cordinha (que deve medir um metro). Como se não bastasse, estendeu tudo mal-enjambradamente! Mas o que mais me irritou foi o fato de ter usado pregadores e nas pontinhas das roupas!

Especialmente para você que ainda não conseguiu enxergar o problema, eu explico. As roupas molhadas pesam, fazendo com que a roupa fique mais esticada do que o normal. Na situação ideal – ou seja, quando eu estendo as roupas – isso colabora para que as peças não fiquem amassadas. Na situação moça-da-faxina-amontoando-roupas-no-varal, isso faz com que as pontinhas fiquem deformadas, o que causa uma Kel com um guarda-roupas de peças cheias de pontas! Mais uma vez, ponto para a boa vontade da minha mãe que, para poder ir ao supermercado comigo, quis poupar tempo e pedir ajuda externa.

Em outros tempos, isso seria motivo de uma guerra civil aqui em casa. Mas, nos dias de hoje, como brigar com alguém que saiu do Rio de Janeiro não só para te ver, mas também para tirar das caixas de papelão as coisas que ainda estão lá desde a sua partida para a Italia, quase um ano atrás? Como ficar com raiva de alguém que, durante a tarde enquanto você trabalhava, fez seus dois bolos preferidos? Como se irritar com alguém que, neste exato momento, está sentadinha no sofá de pijaminha rosa, assistindo à Grande Família e comento pipoca Magitlec?

Ai, Mamãe...

domingo, 6 de julho de 2008

I will survive, hey-hey!

Tudo começou com uma tossezinha na quinta-feira. Lembrando da última vez em que tossi – e terminei dois dias depois com Benzetacil na bunda – achei melhor recorrer logo à indefectível colherada de mel com própolis à noite. Mas aí lembrei que não podia: exame de sangue no dia seguinte.

Tinha colocado o despertador para as seis e meia da manhã (“Melhor fazer esse exame logo cedo e poder tomar café de uma vez”), mas muito antes disso já estava acordada. Aquela dorzinha característica nos joelhos e nas costas não era bom sinal. Mantendo meu otimismo peculiar, achei que pudesse só ter dormido de mal-jeito.

Na hora de levantar, o diagnóstico: “É... tá foda”. Coloquei a primeira roupa quente que vi no zoneiro (que aqui em casa não tem esse nome à toa) e me arrastei até o laboratório. Fiz o exame, tomei o café-da-manhã de lá (fatia transparente de bolo, nano-sanduíche e 30ml de tang de laranja) e me arrastei de volta pra casa. Daí para a frente, foi só ladeira abaixo.

Passei o resto da manhã no sofá, saindo dele às vezes para tomar água ou ir ao banheiro. Por volta da hora do almoço fui para o trabalho. Na primeira olhada que minha chefe me deu, disse assertivamente: “Vai embora! Melhor você ir do que ficar aqui me passando essa sua ziquezira!” Não havia como rebater um argumento desses. Me arrastei até em casa e repeti o programão que havia feito de manhã. Só que dessa vez, adicionei alguns MM's de amendoim, já que o Tylenol começou a fazer algum efeito e eu via uma luz (na verdade, parecia mais um led) no fim do túnel.

No fim da tarde, dá-lhe febre! “Garçom, uma dose de Tylenol, por favor. Sem gelo, mas com um copo extra de água.” Dormi cedo, na expectativa de acordar melhor no dia seguinte. O gato que afiava as unhas na minha garganta carregava também a plaqueta escrita ATTEMP FAILED.

Sábado à tarde e minhas perspectivas de sair à noite eram próximas de zero. Para não arriscar a levar a maldita Benzetacil, nem cogitei uma baladinha de leve. Mas não me dei por vencida, e um pouquinho depois da hora do almoço fui a uma festa junina, bem família. Clima ótimo, comida gostosa – eu ainda sentia cheiros e gostos, companhia divertidíssima. Foi o que salvou o fim-de-semana.

Agora, eis-me aqui: chocolate, filme, ainda Tylenol, Namo – que em um ato de heroísmo busca água para mim a cada 40 minutos e não tem medo de ser infectado por esse X-vírus-mutante-Transformer-antiheroe. Domingo de gripe é assim: da corrida em que o Rubinho ganhou nove posições e chegou ao podium (!!!) até o Faustão, você vê de tudo. E a grande notícia do dia é que o termômetro agora marca só 37,2!

Mundo-cão!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O seu vermelho

- Toda mulher tem o seu vermelho. Você só ainda não achou o seu!

E naquele fim-de-semana, ela se obstinou a encontrar o seu vermelho. No sábado, foi ao salão de beleza, que já estava marcado havia três dias. Certa vez, ouvira dizer que “Mulher, quando quer cortar o pescoço, corta o cabelo”. Não era esse o caso, mas uma mudança seria bem vinda. Fez um corte mais moderninho, repicadinho e sentiu-se muito bem, obrigada!

Domingo foi ao shopping, como já havia planejado. Queria um tênis para correr – parte do Projeto Mais Magra 2008. Não comentou nada antes de sair, para não assustar o Namo, que estava indo com ela, mas o segundo objetivo era o vermelho. E isso exigiria tempo e paciência.

- Experimenta alguma coisa!

- Não, não... quero passar em todas as lojas olhando, depois eu volto nelas experimentando...

Passou horas entre sapatos e vermelhos – o pobre Namo ao lado, esforçando-se para conter a síncope. Muito apertado, muito escuro, muito caro, muito seco. Entrou e saiu tanto que até comprou o tênis. Só faltava o vermelho...

Foi às Lojas Americanas, sem pretensão. Uma olhada em volta, e localizou a seção que lhe interessava. Sem chance de experimentar, avistou seu alvo e comprou, sem dó. Ainda esperando a notinha do caixa, abriu seu batom vermelho, novinho, e passou, olhando no espelhinho de bolsa.

- Ai, amei!! Nossa, ficou ótimo com meu cabelo novo!

Sentiu-se linda, afinal, e descobriu que o vermelho de cada mulher imprime nos lábios um quê de... Mulher.