quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Terça-feira

O dia hoje amanheceu escuro, úmido e quente-frio. Por isso, vou acordar às 08h30, ligar a televisão e chamar o Otelo para a cama. Vou assistir a Ana Maria Braga até umas 09h, quando vou me levantar e tomar meu café da manhã com pão de queijo. Vou trocar de roupa e, se não estiver chovendo, levar o Otelo na rua. Se estiver chovendo, vou levá-lo na garagem, onde iremos correr e brincar bastante.
Na volta, vou tirar uma contra-coxa de frango do freezer, para fazer com batatas, arroz e feijão. Talvez eu vá à Romanina comprar uma salada quando sair com o Otelo. Vou fazer meu almoço, comer tranquilamente e tirar um cochilo no sofá à tarde. Quando acordar, lá pra umas 14h, vou pegar a coleção de paper toys da Alice in Wonderland para terminar. Ainda faltam a Lagarta, metade do Chapeleiro Louco e o Gato todo. Vou fazer tudo isso com a TV ligada na Sessão da Tarde.
Lá pra umas 17h30, vou ver Malhação e entrar no computador. Vou ler um monte de episódios de Questionable Content e, finalmente, atualizar meu blog, já que estou com vários textos prontos que não tenho tempo de postar. Enquanto isso, vou baixando um filme para assistir mais tarde. Talvez eu termine de ver o segundo filme da trilogia do Poderoso Chefão, que comecei meses atrás, dormi no meio, deletei o arquivo sem querer e nunca mais vi.
À noitinha, vou levar o Otelo para passear de novo, assistir ao filme e tomar meu banho. Vou deitar na cama com meu Comer, Rezar, Amar e ler até o sono chegar.

#SÓQUENÃO

De verdade mesmo, vou trabalhar o dia todo e não ver a vida passar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Aloka dos sapatos - ou: Meus artifícios de auto sabotagem

Segunda-feira, 13:45, eu indo para uma reunião na Savassi que começaria às 14h. Passei na frente da loja da Virgínia Barros e resolvi comer aqueles 15 minutinhos que estavam sobrando dando uma olhada nos sapatos. Para minha total infelicidade financeira, vi esta sandália (inserir link) e me apaixonei. Porém, como me restavam poucos minutos para o início da reunião, deixei para experimentar depois.
Passei o tempo todo da reunião (que estava marcada para 14h às 18h mas que começou com uma meia hora de atraso) pensando que passaria lá caso a reunião terminasse mesmo na hora. Novamente, para minha infelicidade financeira, ela terminou. Fui à loja de novo, experimentei, a danada da sandália ficou linda no meu pé e me vi obrigada a levar ela embora.
Enquanto esperava a menina (Laís o nome dela, uma graça) colocar a sandália no saquinho, vi a ankle boot mais bonita do mundo. Meu coraçãozinho feminino e levemente consumista gelou. Perguntei o preço. Três dígitos começando com 1. Peguei a botinha da vitrine. Laís me disse que era de uma coleção especial feita em homenagem a Alice no País das Maravilhas e que, além dessa, só havia sido feita mais uma, número 35 e meu coração dava pulinhos com os olhos brilhando. Experimentei a botinha, e percebi tristemente que ela tinha ficado um pouco estreita no meu pé. Não muito, nem tão apertada, somente um pouco justa.
Fui para casa pensando nela, dormi pensando nela, passei o dia no trabalho pensando nela. Abri o blog da Virgínia Barros para ver a foto dela e mostrar para as meninas do Marketing. Por que a bota exclusiva tinha que ser tamanho 36? Resolvi usar a minha técnica de sabotagem mais comum, ou seja, “vou esperar até sábado. Se ela ainda estiver lá, significa que era mesmo para ser minha”, mas quem disse que resisti?
Ontem, exceção das exceções, saí do trabalho às 18h em ponto – ou quase. Fui no caminho travando uma batalha comigo mesma, sem saber se esperava até sábado ou se já passava na loja de uma vez e comprava o raio da ankle boot. Mais uma técnica de auto sabotagem em jogo: se eu achar uma vaga na Fernandes Tourinho, bem no primeiro quarteirão, eu vou na loja. Mais uma vez, para desespero da minha conta no banco e do meu salário, achei a primeira vaga do quarteirão!
Na loja, experimentei a botinha de novo. A jogada era levar a maravilhosa no sapateiro e torcer para ele conseguir fazer a bota 36 calçar meu pé 36,5. Saco, por que o modelo exclusivo não é 37? Horas de dúvida, momentos de tensão e ansiedade, a ankle boot mais bonita do mundo nos meus pés e eu sem saber se conseguiria usar um sapato tão justo. Laís me garantiu que eu poderia trocar a bota caso eu a levasse no sapateiro e ele não conseguisse fazê-la ceder. Imaginei todas as roupas que eu poderia usar com a botinha. Comprei. Comprei e agora estou com ela no trabalho para levar no sapateiro na hora do almoço. Ponto para as táticas de auto sabotagem.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O privilégio de Dona Flor

Fui assistir, no fim de semana, à peça Dona Flor e Seus Dois Maridos – baseada no romance de Jorge Amado – com Carol Castro, Marcelo Farias e Duda Ribeiro. A peça é, como eu já tinha ouvido falar várias vezes, ótima. Figurinos, cenário, sotaque baiano dos atores – maioria carioca – e até o vídeo que introduz a peça, tudo muito bem produzido. O riso vem natural e, às vezes, compulsivo, como na cena em que Teodoro (Duda Ribeiro) vai à casa de Flor (Carol Castro) pedi-la em noivado. Também há as pitadas de drama, como na morte de Vadinho (Marcelo Farias). Morreu no Carnaval, de cachaça e vadiagem, vestido de baiana.
Enfim, definitivamente uma peça para ser vista. Mas fiquei mais interessada na história de Dona Flor. Uma mulher séria, direita, trabalhadeira e de princípios. Ainda assim, uma mulher cheia de desejos – como todas, aliás. Casa-se com Vadinho, pilantra vagabundo e ótimo amante. Com a morte desse primeiro marido, se vê obrigada a superar o luto e se casa uma segunda vez, com o sério e cerimonioso farmacêutico Teodoro. Porém, se com o primeiro ela era infeliz, mas satisfeita, Flor agora é uma mulher infeliz e insatisfeita.
É para resolver esse problema que o espírito de Vadinho volta, para satisfazer Flor nos quesitos em que Teodoro não é capaz. Não é facilmente que a moça aceita a situação, mas há que se dizer que Vadinho é um mestre na retórica. Convence Flor de que ele e Teodoro não são adversários, mas sim “colegas”. Ambos casados com ela no papel e na Igreja, com igualdade de direitos. O golpe de misericórdia é o monólogo final, lindo, em que Vadinho finalmente convence Flor de que ela nunca será plena somente com um dos dois maridos. E ela cede, apaixonadamente.
Saí da peça imaginando a vida feliz de Dona Flor, com seus dois maridos. Teodoro é o perfeito companheiro, sério, leal, preocupado com o bem estar da esposa e provedor da casa. E Vadinho se ocupa da “vadiagem”, parte igualmente importante. Tem a única – mas não menor – função de satisfazer Flor em seus desejos mais viscerais, completando o cenário de felicidade plena daquela mulher que tem como ambição ser completa.
A peça, mais que entretenimento, “mi ha fatto un colpo”. Um golpe fulminante, que inseriu em mim um pensamento, aliás, um sentimento que não tenho conseguido abandonar: toda mulher merecia ser Dona Flor.