Era para esse post ter saído há mais tempo mas, como tudo na minha vida, procrastinei. Ei-lo, finalmente.
No último feriado, de 1 de maio, viajei para a casa dos meus pais. Fui sem o Namo, porque tinha o objetivo de ser algo que não tenho sido muito ultimamente: filha. Com Papis e Mamãe morando longe, tenho sido muito dona-de-casa, estagiária, namorada, amiga algumas vezes, mas tenho sido bem pouco filha. Assim, fui. Sozinha, com minha mochila enorme e uma revistinha para passar a hora no avião.
O feriado correu tranquilo. Familiar. As regalias que pai e mãe nos proporcionam não valem só por serem regalias. Valem por serem uma forma de carinho, tão típica de pais. Fizemos coisas que costumávamos fazer alguns anos atrás, como sair para alguma cidade perto para dar um passeio e almoçar alguma coisa diferente e gostosa. A bola da vez foi Cabo Frio, que eu não conhecia. Também usei e abusei dos colos de papai e mamãe, e quase me senti com 17 anos novamente.
Algumas coisas nunca mudam. Outras, sim. A volta para casa caiu no dia da final dos torneios estaduais de futebol. No Rio, Botafogo x Flamengo. Um clássico. Na minha casa, nunca se acompanhou futebol. Meu pai sempre foi muito nerd para gostar de futebol, e meu tio, irmão dele, muito desregrado e perna-de-pau para jogar. E, não jogando, não gosta. A única a gostar de futebol é minha prima, de 14 anos. Torce loucamente pelo Botafogo. Por influência dela, acabamos acompanhando um pouquinho mais o esporte.
Meu voo para casa era às 19:19, por isso tivemos que sair de casa justamente no horário do jogo. Pudemos ver quase o primeiro tempo todo em casa. O segundo, fomos ouvindo no rádio do carro. Jogo eletrizante, mesmo para quem não gosta nem acompanha futebol. O Flamengo havia feito dois gols, e já não acreditávamos que o Botafogo tivesse a chance de ser campeão. Foi quando o Bota fez dois gols em questão de cinco minutos ou menos. A partida terminou empatada, a final do Campeonato Carioca ficaria para os pênaltis.
Chegamos ao aeroporto justamente no intervalo para a cobrança dos lances, e ainda estávamos muito adiantados para eu pegar meu voo. Sugeri que ficássemos no carro para continuar escutando o jogo na Rádio Globo (com eco no “ô-ô-ô”), mas meu pai não gostou muito da ideia. Como ele também queria ver o final do jogo, ele mesmo sugeriu que procurássemos uma televisão dentro do Santos Dumont. Não tinha. Fomos até a guarita dos seguranças do estacionamento do aeroporto, que estavam assistindo à partida em uma televisãozinha portátil em preto-e-branco.
Senhor, para embarque é só seguir até o final do corredor e virar à esq...
Já começaram os pênaltis?, perguntou meu pai, com seu jeitão seco e de poucos amigos.
O segurança respondeu que não meio ressabiado, e perguntei a ele se podíamos terminar de assistir ao jogo ali. Solícito, como a maioria dos cariocas, ele respondeu que sim, e ficamos comentando o jogo enquanto os times se preparavam para a cobrança dos pênaltis.
Outro grupinho de pessoas se juntou a nós, tentando ver alguma coisa na telinha de cinco polegadas. Foi nessa hora que eu me dei conta da situação em que estava. Meu pai, minha mãe e eu, que nunca havíamos gostado nem acompanhado futebol, esperando para assistir ao fim de uma partida em uma televisãozinha nanométrica num estacionamento mal iluminado de aeroporto, junto com outras dez pessoas e alguns morcegos. Olhei para meu pai e para minha mãe, com os olhos vidrados na telinha. Sorri, percebendo que a gente aina pode se surpreender com as pessoas mesmo depois de tantos anos de convivência.
O jogo? Terminou 4 a 2 para o Flamengo. E eu peguei meu voo para casa.