Quatro dias depois do grande show da minha vida, acho que somente agora minha ficha está começando a cair: EU VI UM BEATLE AO VIVO! Estou ouvindo as músicas da setlist e só agora as lágrimas me vêm aos olhos, relembrando cada momento da apresentação. O show que começou com Magical Mystery Tour e levou a platéia ao delírio já nos primeiros acordes ainda guardava muitas surpresas, mesmo para os que haviam decorado toda a setlist.
Seguida de Jet e, logo depois, de All My Loving, o Morumbi veio abaixo pela segunda vez em menos de 15 minutos. Nessa hora – como diria Rob Gordon – eu já queria ir lá fora comprar outro ingresso com um cambista, porque os R$160 que eu paguei no primeiro já tinham sido gastos.
Em um show em que todo o público sabia de cor até os péon-péon-péon-péeeiinnn dos riffs das guitarras (agora brilhantemente tocadas por Brian Ray e Rusty Anderson), não se podia esperar mais do que um clima ótimo: todos os que estavam ali queriam realmente estar ali e se esforçaram para isso; várias gerações – dos tiozões de 60 e poucos anos até garotinhos de sete ou oito – curtindo as mesmas músicas e nem sombra de qualquer tipo de confusão. Até a chuva, que começou a cair em São Paulo por volta das 15h30, colaborou com a noite e parou por volta das 21h.
A banda de Paul McCartney também é um show à parte, com destaque para o multi-instrumentista e também diretor musical da banda Win Wickens, que é uma orquestra de um homem só. Trazendo teclados, metais e cordas para dentro de um palco que abriga somente cinco músicos, ele dá a graça de uma série de cações como Let ‘em In, por exemplo. Outro destaque é Abe Laboriel Jr., baterista que abandona as baquetas em Dance Tonight para realizar uma elaborada (#not) e simpática coreografia no fundo do palco.
Mas, depois disso tudo, devo dizer que o que mais me impressionou foi a simpatia e a gentileza de Paul McCartney. A gente reconhece um verdadeiro lord inglês quando vê um. Com um repertório de frases em Português que fugia – e muito – dos tradicionais “Oi! Tudo bem?” e “Obrigado” com sotaque carregado, Paul (e já me permito a intimidade) ainda se desculpava com a platéia quando queria expressar alguma coisa que não estava em sua cola de frases em Português. Com “Esta música eu escrevi para minha gatinha Linda, mas esta noite ela é de todos os namorados”, foi ovacionado e arrancou de todos aquele sorriso de compaixão misturado com ternura. Distribuiu elogios à platéia (“vocês são ótchimos!”, “vocês são maravilhosos!”, “you are great”) e teve a delicadeza de não criar rivalidade entre o público dos dois shows, de segunda-feira e de domingo (“You have been a great audience. You and yesterday’s audience have been great audiences. It’s a pleasure for us. “).
Com a chegada do segundo bis, todos os presentes sabiam que o once in a lifetime show estava para acabar. Mas Sir Paul McCartney ainda fez questão de preparar os corações daquele mundaréu de gente, como um avô que prepara o neto relutante para dormir. “Agora nós vamos embora”, e foi respondido com um sonoro “Noooo!”.
- “Sim, nós vamos embora.” E novamente, “Nooo!”.
- Don’t you want to go?”
- “Noooo!”.
- “Yeah yeah yeah but we have to go, get back to the hotel, and also you have to get back to the places where you came from”.
Não era mais possível argumentar. Assim, assistimos – e cantamos – felizes à adaptação de Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
“Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band, we hope you have enjoyed the show…” E o sentimento geral de quem deixava o estádio do Morumbi com trechos variados das músicas apresentadas nas quase três últimas horas era, sem dúvida, “Thank you, Sir”.
2 comentários:
Faltou falar tanto...
e no seu show ele não caiu no palco. Melhor assim. Ele não pode morrer antes de voltar ao Brasil.
Postar um comentário