Tudo começou com as etiquetas dos pijamas. Quando eu era pequena, minha mãe me colocava no colo para me ninar à noite, já de pijamas, e eu esfregava a etiqueta da roupa dela enquanto chupava o polegar esquerdo. Mas, como minha mãe trabalhava fora o dia inteiro e eu ficava com meus avós, Vô Zé me comprou um lenço de seda indiano para eu esfregar enquanto chupava o dedo.
Durante todos os anos em que chupei dedo - acho que parei com uns sete ou oito - foram, talvez, dezenas de “lencinhos" que eu esfregava até puir um tecido no outro. A perda de um lenço era como a perda de um ente querido. Ainda me lembro da vez em que um deles voou da janela do carro na ponte Rio-Niterói. Fiquei sem dormir aquela noite porque não queria o lenço que minha mãe já tinha de reserva em casa. Queria o meu lencinho que tinha voado na ponte.
Com o passar do tempo, eu comecei a usar aparelho, parei de chupar dedo, comecei a ter vergonha da mania, adquiri outras tantas manias e o lencinho – sem seu fiel companheiro Polegar Esquerdo – também acabou caindo em desuso na minha vida.
Durante todos os anos em que chupei dedo - acho que parei com uns sete ou oito - foram, talvez, dezenas de “lencinhos" que eu esfregava até puir um tecido no outro. A perda de um lenço era como a perda de um ente querido. Ainda me lembro da vez em que um deles voou da janela do carro na ponte Rio-Niterói. Fiquei sem dormir aquela noite porque não queria o lenço que minha mãe já tinha de reserva em casa. Queria o meu lencinho que tinha voado na ponte.
Com o passar do tempo, eu comecei a usar aparelho, parei de chupar dedo, comecei a ter vergonha da mania, adquiri outras tantas manias e o lencinho – sem seu fiel companheiro Polegar Esquerdo – também acabou caindo em desuso na minha vida.
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Ontem fui à casa dos meus avós paternos – Vó Mana e Vô Zé. Minha avó já havia me dado seu presente de Natal: uma colcha de retalhos! Já meu avô, velhinho, não havia me dado nada. Ele me viu deitada no sofá, assistindo ao Caldeirão do Hulk na tv e, magrinho, achou um lugar para se sentar ao meu lado. Olhou para mim com aquela cara sorridente que ele sempre tem e falou:
- Raquel, me faz um favor??
- Claro, vô. Pode falar, respondi
- Mas faz mesmo??? - Confirmou ele, pegando alguma coisa no bolso
- Faço, pode falar, respondi já imaginando ter que ir à padaria comprar um refrigerante ou coisa parecida
- Toma esse dinheiro e compra um “lencinho” pra eu te dar de Natal! - disse Vô Zé com a cara mais marota que se pode esperar de um senhor de quase 80 anos
Fiquei comovida com o gesto delicado e, ao mesmo tempo bem humorado do meu avô. Me surpreendi com sua presença de espírito, para mim, atípica em uma pessoa próxima das oito décadas de vida.
O “lencinho” se transformou em uma calça saruel de malha que fiz questão de mostrar para ele.
O “lencinho” se transformou em uma calça saruel de malha que fiz questão de mostrar para ele.
- Aqui, vô, o presente que você me deu de Natal!
- Ihh! Buniiita!
Meu avô é uma gracinha.
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