Era de noite, e estávamos – mamãe, papai e eu – no carro, indo não sei para onde. Como de costume, meu pai se perdeu no caminho e fomos parar em um beco escuro e deserto. Meu pai foi fazer o retorno em um lote vago, quando nós fomos cercados por um bando de homens mal encarados e armados – não vi direito com o quê, mas sabia que não eram armas de fogo. Na mesma situação que a gente estava um outro homem, mais ou menos da idade do meu pai.
Como esse outro homem havia chegado primeiro, os homens mal encarados resolveram acertar logo com ele. Mandaram o homem sair do carro e foram dando safanões nele até ele chegar em um canto do lote, longe do carro. Meu pai também saiu do nosso carro, mas os homens mal encarados o mandaram esperar. Meu pai estava perto da saída, ao lado do carro do homem.
Não sei direito por que, o homem que estava sozinho começou a se agitar e os homens mal encarados também. Começou uma gritaria, um corre-corre e alguns safanões no homem sozinho. Nessa hora, vi meu pai olhar para o carro do homem sozinho. Falei “Mãe, troca de lugar que meu pai vem pra cá”. Mas aí vi que meu pai ia para o outro carro e gritei: “Mãe, dirige este carro! Vai!”
Meu pai correu para o carro do homem sozinho, que estava com as portas abertas e a chave na ignição. Bateu a porta e arrancou com força. Minha mãe venceu o torpor e arrancou nosso carro também com força, quase atropelando um dos homens mal encarados – este usava chapéu e parecia ser o chefe da gangue. Quase fomos pegas na troca de marcha, mas conseguimos fugir. Paramos mais na frente, com os olhos arregalados, a boca seca e o coração querendo sair do peito. Meu pai estava logo à nossa frente, também são e salvo, no carro do outro homem.
Quando acordei, o vento – que soprou forte a madrugada inteira – assoviava na janela e fazia o telhado da casa velha do vizinho bater fazendo barulho. Outros barulhos – de cidade abandonada – também eram obra desse vento do qual eu não gosto. Fiquei grata por ter sido um sonho ruim, mas o aperto no peito ainda mora aqui temporariamente.
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