terça-feira, 24 de junho de 2008

Quinze aos 23

Todo mundo que vira adulto, passa pela adolescência. Olhando para trás, você vê aquela pessoinha de 15 anos, cheia de medos, inseguranças, às vezes baixa auto estima. Você lembra das tantas vezes em que pensou “Será que ele(a) gosta de mim?”, “será que eu gosto dele(a)?”, “é isso, então, que chamam de paixão?”, "e agora?!".

Uns anos depois, você já está mais crescido, talvez já tenha até encontrado A pessoa da sua vida, já mudou várias vezes de opinião sobre tudo. Se acha muito maduro: tem seu próprio emprego, sua casa, ganha seu dinheiro e gasta do jeito que quiser. Vai aonde quer, com quem quer e quando quer.

Um dia, você presta atenção aos irmãos mais novos de seus amigos. Adolescentes. Vê que eles passam pelas mesmíssimas coisas que você passava na sua época. E pensa "que bobagem! Ainda bem que a gente cresce e deixa isso tudo para trás". Você é um adulto bem resolvido agora!

Você só não esperava voltar, um dia, a ter 15 anos. Novamente, as coisas ganham uma proporção muito maior do que têm realmente. As sensações se multiplicam e você quase se sufoca! Frio na barriga, medo (de quê mesmo?), pensamentos como uma panelada de sopa fervendo! Você quer falar, mas não encontra as palavras; quer chorar, mas por quê? Quer sumir, mas o chão não abre, quer esquecer, mas como, se a questão está ali?! Quer diminuir ainda mais, até caber em algum colo quente e confortável. Da mãe, do pai, dA pessoa...

Voltar no tempo assim não é coisa que aconteça toda hora. É necessária uma situação que teste seus limites: da paciência, da capacidade de decisão, da concentração, do controle emocional. Mas o que incomoda mesmo, nesse caso, não é a situação em si, que exige tudo o que você pode - e algumas coisas que você não pode - dar. O problema é ter quinze anos quando ela chega! Onde foi parar aquela pessoa auto-confiante, cheia de si, que fala tudo o que precisa quando precisa? Onde foram parar as palavras, a voz?

Do lado de dentro de você, uma barulheira sem fim! Alguém grita "FALE ISSO", "FAÇA AQUILO", "NÃO PENSE NISSO AGORA", "DECIDA-SE", "CRESÇA"! E você lá, gaguejando... De um jeito ou de outro, a hora passa, você dá um jeito nas coisas, vai para casa. No dia seguinte está até mais leve. É estranha essa serenidade depois do caos de pouco tempo antes. Aí vem também o inevitável "será que precisava daquilo tudo? As coisas funcionam agora... será que não bastava ter esperado a crise passar?" São os resquícios de ter voltado aos 15 anos ainda se manifestando, como o dia seguinte a um ataque de enxaqueca.

Quando todos os sintomas passam, e você volta a ter emocionalmente sua idade cronológica, percebe que tinha que ter sido assim. Nada ia passar se você ficasse sentado esperando, as coisas não iam se resolver, você não ia ficar tranqüilo. E, além do mais, ia ficar arrependido de não ter tomado providências quando podia. No final, se dá conta que só fez tudo do jeito que fez graças à inconseqüência típica dos adolescentes. Enfim, benditos 15 anos.