sábado, 21 de março de 2009

... pois já vai terminando o verão, enfim

Música melancólica, de fim de verão. Dê play no vídeo enquanto lê.



Há muitos dias tenho desejado que o verão acabe e o inverno chegue logo, com suas temperaturas amenas e seus dias de frio seco, sem chuva.

Ontem começou oficialmente o outono. Já no primeiro dia, trouxe para a minha casa aquele vento característico, forte e denso. Me remeteu a um período que não sei bem qual é, mas abriu em mim aquele buraco perto do estômago. Me senti sozinha, quis colo. Quis minha mãe, que está mais longe do que de costume. Quis o barulho das chaves do meu pai, abrindo a porta de casa mais ou menos às oito e meia da noite. Lembrei de uma época feliz, mas que me trouxe um desconforto grande depois. Senti esse desconforto.

Achei que fosse gostar do dia em que acabasse o verão. Mas o vento de outono trouxe também uma grande melancolia.



quarta-feira, 11 de março de 2009

O Armário pergunta

Dia desses almocei em um restaurante que também é doceria. Era sexta-feira, eu estava sozinha e comia tranquila em uma mesinha que ficava perto do balcão. Entre uma garfada e outra, eis que chega ela: a Perua. Vestido vermelho, tomara-que-caia (foda-se a reforma ortográfica, quero os hifens!), sandalinha de salto, empregada de branco, uniformizada, ao lado.

Pelo que pareceu, chegou aos 48 minutos do segundo tempo de uma partida que só ela estava jogando. Entrou na loja, colocou os óculos escuros de hastes douradas na cabeça, balançou os cabelos compridos e alisados. Queria uma torta pequena. Assim, de sopetão, a única opção era uma tortinha de amendoim, para cerca de dez pessoas.

- Não tem menooor??

- Não... no momento só temos essa... - respondeu o balconista.

Resignou-se em levar aquela mesmo, e pediu um refrigerante grande. O balconista lhe apresentou uma garrafa PET de Kuat, que não era “Zero”.

- Só tem eeesse??, perguntou a Perua apressada e com ares que ficavam entre a indignação e o desprezo.

- É... grande só temos esse mesmo...

Aparentemente atrasada para algo im-por-tan-tís-si-mo, a perua aceitou o Kuat que não era “Zero”. Dispensou a sacolinha plástica – atitude legal, reconheço – e colocou a garrafa em uma bolsa de pano estampada de bolinhas, que quase jogou em cima da empregada-uniformizada-de-branco.

Visivelmente apressada, ela abriu sua maxibolsa, balançou os cabelos mais uma vez e perguntou onde ela pagava a compra. O balconista indicou o caixa, que estava a uns três passos da perua. Sacando do cartão de créditos, ela perguntou, alto, dentro da confeitaria:

Quê que eu falo???

E aqui, estimado leitor, eu pergunto: o que ela fala?

Opção 1 – Estou levando 1,5 kg de músculo e 2 kg de moela. Quanto dá?

Opção 2 – Meu marido me trocou por duas de vinte... legítimas!

Opção 3 – Oooooiii, Fulana! Preciso de um looosho de massagem hoje! Você tira aquele resto de mousse da mesinha pra eu deitar?

Opção 4 – São 300 ml de silicone, uma lipo na região abdominal e um retoque no nariz. Posso dividir no cartão?

Opção 5 – Empregada-uniformizada-de-branco, liga pro meu analista. Agora!

Vote, dê sua opinião! A resposta preferida pelos leitores será afixada na vitrine da confeitaria para auxiliar a perua em suas próximas compras de torta-e-refrigerante.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ombudsmulher

Reconheço, confesso, admito: roubei o título da coluna do Carol, e-zine do curso de Comunicação da UFMG. E, a bem da verdade, não será de fato uma ombudsagem, visto que não trabalho no veículo – ainda. Mas o nome do cargo – que eu acho que deveria, de fato, ser criado – é muito pertinente, tanto com o veículo, quanto com o que me proponho a fazer. Posto isso, vamos ao que interessa.

Dia desses, ainda em janeiro, assinei a revista TPM – Trip Para Mulheres. Após quase um ano de minha chefeamiga (gente, desculpa, é a maldita reforma ortográfica...) comentando comigo sobre as edições mensais da tal revista e após ler algumas edições que peguei emprestadas ou comprei na banca, resolvi que seria esta a “revista feminina” que iria me completar. Revista de mulher moderna, que não quer conquistar-seu-homem-em-doze-lições, que não sucumbe à ditadura da magreza esquelética, que apresenta casos interessantes de gente interessante.

Liguei para o SAC da Editora Trip, parcelei a assinatura em duas vezes (bolsaestágio me obriga a fazer essas coisas) e fiquei esperando ansiosamente a chegada do pacotinho que, como havia me advertido a atendente da Trip, só chegaria na segunda quinzena de fevereiro.

Minha primeira TPM de assinatura chegou dia 14 de fevereiro, e com brinde – God knows como eu gosto de um brinde! Abri o pacote e fui dando as primeiras olhadas na revista dentro do carro, a caminho da casa do meu sogro. Fui de TPM para o churrasco, e com que prazer!

Acho que, se a equipe de redação da revista soubesse do conteúdo destes primeiros parágrafos, não teria feito uma revista tão maisoumenos (Altas! Reforma ortográfica!). Início de fevereiro, volta das férias, ano brasileiro quase começando – ainda não havia passado o Carnaval – e a TPM chegou morninha, morninha.

Devo admitir que algumas matérias corresponderam às minhas expectativas. A reportagem sobre as mulheres quitanda ficou excepcional. Muito bem escrita e me fez pensar em algo que não havia me passado pela cabeça antes: essas mulheres sacodem a bunda por opção, deliberadamente para ganharem dinheiro e sabem o que significa o que fazem em seus shows. Muito bom! Bacanérrimas também foram as páginas vermelhas. Mulher de verdade, cheia de problemas, que vai levando e consegue até ser feliz com o que realizou até hoje. Entram aqui neste parágrafo de elogios as crônicas da Milly Lacombe, Mara Gabrilli e Diana Corso: cada uma a seu modo escrevendo com sensibilidade extrema. Outro acerto: a peça coringa do mês, apesar de cara, foi muito bem escolhida.

Por outro lado, houve também o que me desagradasse “de com força”. Matéria Última Moda, por exemplo. Para início de conversa: “A proposta é que você, que pesa mais de 60 quilos e não se interessa por desfile, também fique linda com o modelito”. Achei ótima essa proposta, já que pertenço a esse grupo. Mas será que essa regra só se aplica fora da revista? Ao ver as fotos da matéria, percebi que eram exatamente as “magrelas” a posar com as tais roupas para a sessão de fotos da revista! Hello! Além disso, serão só as alunas recém formadas pela Faculdade Santa Marcelina as promessas no mundo da moda ou isso foi o que a redação teve tempo de apurar?

O Magazine beleza também não está lá essas coisas. Apesar de a Didi Wagner parecer ser mesmo uma mulher vaidosa mas sem frescuras – o que é um fato muito positivo – o fato de ela morar em Nova Iorque a distancia muito de nós, leitoras mortais, que moramos do Oiapoque ao Chuí. “Faço o estilo high-low: compro roupas da Zara, mas também uma ou outra peça de grifes mais caras, para pontuar o look”. Gente, socorro! Desde quando a Zara é de se desprezar assim aqui no Brasil? Por mais que haja as fantásticas promoções e que a marca seja o equivalente de nossas C&A, Riachuello e Renner no exterior, em terras tupiniquins comprar na Zara é pagar caro!

Essa discussão me leva a um outro ponto que já havia me incomodado um pouco em edições anteriores, mas que na TPM de fevereiro se intensificou. Cadê as pessoas normais? Cadê as pessoas que não são enteadas do Gabeira, ou professoras das estrelas, ou ex funcionárias da Trip Editora, ou filhos do João Ubaldo Ribeiro? Não que elas não tenham histórias interessantes para contar. Ao contrário, a experiência da enteada do Gabeira na África parece ter sido realmente extraordinária, e o filho do João Ubaldo Ribeiro é, de fato, um pitéu. Mas também há pessoas sem relação direta com figurões da cena brasileira que possuem histórias tão fascinantes quanto.

Por fim, sobre a editora convidada especial do mês. Que chatisse! Vou-me-mudar-de-apartamento-e-combinei-com-meu-marido-de-transformarmos-nosso-apartamento-atual-em-residência-moradia-uoréver-para-artistas. Socorríssimo!

Felizmente, o tempo é implacável e passa rápido. Assim, já nos encontramos em março, mês de uma TPM nova e – espero – renovada. Carnaval já passou, o ano definitivamente já começou. Mãos à obra!