quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Talita

No ônibus para o trabalho, uma garotinha sentada à minha frente pedia para a mãe ler o que estava escrito no cartelete do projeto Leitura para Todos. A mãe, sem paciência, preferiu dormir a ler para a menina, que não se deu por vencida e ficou brincando com o cartaz mesmo assim.

Eu peguei meu livro – Jane Eyre, da Charlotte Bronte – e continuei minha leitura, enquanto ouvia as músicas que tinha colocado no iPod ontem. A menina do banco da frente se ajoelhou no assento e colocou a mãozinha sobre o meu livro, examinando as ilustrações da capa. Olhei para ela e ela riu um sorriso sapeca e sem dois dentes recém-caídos. Sorri de volta. Essa foi a senha de que ela precisava para começar o diálogo.

- Posso ver?

- O que você quer ver?, perguntei virando o interior do livro para ela.

- Quem é este? – ela me perguntou, apontando para uma ilustração

- Ele se chama Senhor Rochester.

- Posso ver seu livro?

Marquei a página que estava lendo e emprestei o livro para a menininha, que o folheou todo, muito interessada. Quando terminou de ver, me devolveu e voltei a conversar com ela. Se chama Talita, tem seis anos, gosta de brincar de boneca – sua preferida sendo a Júlia, que fala “Mamãe” e “papá” – e está no primeiro ano da escola, apesar de agora “estar de férias, né!” Ainda não sabe ler.

Talita ficou curiosa para saber o que eu estava ouvindo. Dei um lado do fone de ouvido para ela, que ouviu só uns quatro ou cinco acordes antes de exclamar um “Que lindo!”

- Ele se chama Louis Armstrong – expliquei vendo aquele sorrisinho faltando dentes.

Ela ficou encantada. Pegou o outro lado do fone de ouvido, que estava solto no meu pescoço, e colocou na orelha. Apreciou um pouco mais a música e me devolveu um lado do fone, para que eu pudesse ouvir aquela beleza também. Voltou a se sentar em seu banco, a Talita, com meu fone em seu ouvido. Não tive coragem de privá-la daquele prazer – até porque, um gosto por Louis Armstrong tem que ser incentivado – e fiquei sentada na beiradinha do meu banco, para que o fio do fone chegasse até ela.

Enquanto Talita ouvia música e fazia desenhos imaginários no vidro do ônibus, reparei que parecia ser uma menina pobrinha. Mulatinha, de olhos meio puxados, estava bem descabelada e com os cabelos sarará – como eu tinha quando era pequena! – presos sem cuidado em um coque no alto da cabeça. Imaginei que haviam sido presos com a mesma paciência com que a mãe lhe havia lido o cartaz do Leitura para Todos – nenhuma. As unhas tinham um resto de esmalte. Aliás, de dois esmaltes, um preto e outro vermelho. E também tinha uns machucadinhos pelo rosto. Senti uma vontade de colocar Talita no meu colo e apresentar a ela muitas outras coisas bonitas: pinturas, outras músicas, filmes, levá-la a uma orquestra.

Chegou o centro da cidade e a mãe de Talita se levantou para descer. Percebi que foi sofrido para ela se separar de Louis Armstrong, com aquele seu vozeirão bonito e seu trompete açucarado. Talita saiu correndo do banco no último momento, vendo que sua mãe já estava descendo do ônibus e ela ia ficando para trás. “Tchau, Talita!” – falei enquanto ela ia saindo. Pequenininha, se espremeu entre as pessoas em pé e pulou do ônibus que já ia começando a andar de novo. 

Recoloquei os fones de ouvido, reabri o livro e ouvi lá de longe:

- TCHAU, RAQUEEELL!!!

Olhei para fora e vi Talita abanando a mãozinha lá da calçada, com seu sorriso incompleto. Segui o caminho sentindo amor por Talita. Torci para que ela ainda tenha outros contatos com Louis Armstrong, e também com Ella Fitzgerald, Cole Porter, Miles Davis e todos os outros bons músicos deste mundo. Desejei saber o que será de Talita daqui a 20 anos – e desejo, com toda a força, que ela tenha um futuro brilhante, que não perca o interesse pelos livros e que não deixe morrer esse gosto refinado que já tem. Talita hoje tornou meu dia muito mais bonito. Mas o que me deixa feliz de verdade é saber que pude retribuir isso a ela.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Novas descobertas arqueológicas feitas em Minas Gerais


Belo Horizonte (MG) se transformou, da capital dos butecos para sítio arqueológico, na última quinta-feira (12). Uma equipe de arqueólogos da Universidade de Chicago, Estados Unidos, fez uma importante descoberta no bairro Prado, região centro-oeste da cidade. Após meses de pesquisa e de trabalho intenso, os acadêmicos desenterraram uma série de objetos pertencentes à sociedade pré-tecnológica. 

Foram encontrados dois tipos de discos – um grande e preto e outro pequeno e prateado – e outros dispositivos plásticos transparentes, dentro dos quais é possível ver uma fina fita marrom brilhosa, enrolada em dois pequenos rolos. Segundo o especialista em pré-tecnologia e coordenador do grupo, Michael Jones, os objetos encontrados faziam parte dos hábitos de lazer dos homens daquela época. “De acordo com os registros escritos que temos da sociedade pré-tecnológica, podemos afirmar com certeza que os achados eram dispositivos utilizados para ouvir música”, revela. Ainda de acordo com o pesquisador, os três tipos de objetos pertencem a épocas diferentes, o que torna ainda mais significativa a descoberta do grupo. “Podemos perceber, aqui, uma evolução dos dispositivos usados para a fruição da música. Pelos nossos estudos anteriores, podemos dizer que o mais antigo é o disco grande e preto, que é de um material muito sensível; depois, vieram as caixinhas plásticas, chamadas de “fitas-k7” pela população da época; e, por fim, temos o “CD”, disco menor e prateado que, de acordo com os registros, era lido a laser”, esclarece o professor Jones.



Apesar de acostumados a lidar com relíquias pertencentes a tempos remotos e a reconstruir sociedades há muito extintas, os próprios pesquisadores se emocionaram com as descobertas recentes em Belo Horizonte. “É incrível ter um contato tão próximo com a sociedade pré-tecnológica! Já havíamos estudado seus hábitos e modos de vida, mas encontrar vestígios tão concretos e em tão bom estado é emocionante. Poder tocar estes objetos nos transporta para outra época”, declarou Marion Parker, estagiária do projeto.   

O próximo passo da pesquisa, de acordo com o professor Jones, é conseguir utilizar os dispositivos. “Todos os objetos estão em ótimo estado de conservação e acreditamos ser perfeitamente possível fazer com que funcionem”, declara. Ele conta ainda que as pesquisas agora terão foco no estudo dos aparelhos que eram utilizados para a reprodução dos dispositivos de música encontrados e na recriação dos mesmos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Para o ano

Dezembro passou e – como se nota – o Meme das Antigas ficou pelas metades. Até pensei em fazer um parágrafo curto sobre cada tema, mas já estando em 2012 me parece estranho falar desse ano tão distante que foi 2011. Uma coisa meio cutucar a ferida, meio ler horóscopo velho, não sei. Assim, prefiro deixar o ano passado no lugar dele – o passado – e voltar meus olhos pra este 2012 tão cheio de possibilidades. A única coisa de que faço questão é da foto de mim em 2011. Sei lá, acho que vai ser legal ver isso daqui a cinco ou dez anos.

Esta sou eu, no dia do Reveillon de 2011 para 2012. De coroa de princesa, porque né?

O que o ano novo me reserva eu não sei, nem posso saber. Mas espero que, no próximo dezembro, o saldo seja positivo. E também posso fazer por onde esse saldo ser positivo. Assim, seguem as minhas propostas (to achando muito clichê já essa coisa de resoluções de ano novo) para este ano:

1 – Beber mais água (pelo menos, um litro por dia)
2 – Comer pelo menos uma fruta por dia
3 – Fazer pelo menos duas viagens a São Paulo
4 – Arrumar um emprego que me pague o que eu quero
5 – Voltar a fazer atividade física (de preferência, capoeira, ou dança + academia)
6 – Ler, pelo menos, cinco livros
7 - Me manter na faixa dos 59kg
8 – Reaprender a comer devagar
9 – Ir mais ao Rio (se não for morar no Rio)
10 – Curtir as novidades

É isso. Dez propostas para mim mesma, todas bem objetivas e realizáveis, basta eu querer. 2012, querido, estou apostando em você todo o resto da conta do meu sucesso, ok? E agora, bola pra frente!