terça-feira, 29 de novembro de 2011

Com fé eu vou

Dia desses fiz aniversário. Precisamente quatro dias atrás. E aí que, nos 26 anos anteriores, eu nunca tinha tido um inferno astral de que me lembrasse. Tirando uma média, não consigo lembrar de um período realmente shitty da vida, principalmente de um que antecedesse o meu aniversário. Mas o Destino, todo mundo sabe, é um fanfarrão. E resolveu tirar a diferença às vésperas do meu 27º aniversário (coincidência ou não, aquela idade crítica, em que um monte de gente talentosa morre. Eu, talentosa, ando por aí carregando patuá até 25 de novembro do ano que vem). Desde junho que eu estava com uma zica que vou te contar: batemos o carro alugado na viagem de férias, perdi sacolas de compras, fui demitida, terminei namoro...

Cheguei ao dia do meu aniversário achando que não tinha nada para comemorar. Não fosse a Sula, nem teria lembrado que nossa data de nascimento marca o fim do inferno astral (que normalmente começa um mês antes do aniversário, mas né?).

Então dia 25 veio e, ao que tudo indica, saiu mesmo desatando alguns nós. Um frila muito legal, uma entrega que eu estava esperando desde semana retrasada, aluna precisando de mais aulas, faxineira que tinha saído e resolveu voltar... Tô botando fé.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Manifesto: Parem com as buzinas!

O negócio é o seguinte: eu não sou uma gostosa. Eu não sou daquelas mulheres lindas, com uma bunda enorme e incrivelmente redonda, nem com peitos espetaculares, nem de cintura fina. Também não sou super alta e chamativa. Sou uma mocinha comunzinha, baixinha, meio gordinha, normalmente ando de rabo-de-cavalo por aí. Nada demais. Mesmo. De verdade. Mas não há um único dia da minha vida que um carro não buzine para mim ou que um energúmeno venha me falar uma babaquice qualquer.

Todos os dias, eu saio para passear com o Otelo (meu cão) de manhã e à noite. E, em ambas as ocasiões, tenho que aturar nêgo palhaço enchendo meu saco. Hoje pela manhã, em um passeio de cerca de quarenta minutos, foram doze (DOZE) carros que buzinaram. Ontem à noite, caí na besteira de passar na frente de um bar e as vozes se confundiram, mas consegui identificar o famoso “nussssassinhora!” e o “que delícia, hein!” Na terça, fui obrigada a ouvir de um velho sem respeito a cantada do “seu cachorrinho tem telefone?” (sim, estamos em 2011 e essa ainda é aplicada). Fim de semana passado, fui abordada por dois caras em um carro, que me perguntaram “Hoje é seu aniversário?”. Respondi que não balançando a cabeça. “Mas você tá de PARABÉNS!”* foi o que ouvi em seguida. Isso porque eu nem vou entrar no mérito dos olhares para minha bunda (que, lembrando, não tem nada de sensacional).

Deve ter gente aí achando que eu deveria me sentir lisonjeada. Mas, não, galera! Longe de serem flattering, esses “galanteios” são ofensivos. Além de chatos (bagarai). Para quem ainda não parou para pensar nisso, mulher não é vitrine, que todo mundo pode comentar livremente e, eventualmente, cobiçar o que vê. E, para quem ainda tem dúvida, eu afirmo: mulher não gosta de ser cantada na rua. É uma afirmação categórica, clara, objetiva e universal. Não pense que não se pode generalizar, porque algumas gostam. Realmente, algumas podem gostar (e ouso dizer que essas precisam dar uma passada no psicanalista pra ver issaê), mas elas não são a regra e não devem ser encaradas como tal.

Outro dia, perguntei no Twitter o que pensa um cara que mexe com mulher na rua. E a resposta veio neste link (as legendas estão em Espanhol, mas acho que dá para entender bem). Como quem me mandou a resposta foi o Tyler Bazz, cara muito inteligente, tenho certeza de que ele estava brincando e não acredita realmente nisso. Agora, pensando na média do povo por aí, até posso acreditar que esse argumento (“não conseguimos pensar em nada melhor para chamar a atenção das mulheres”) seja verdade.

Sei que, na maioria das vezes, não adianta somente apontar o problema. É preciso sugerir soluções. Assim, para aqueles que ainda não conseguiram pensar em nada mais eficaz do que a famosa buzinadinha ou a cantada cretina, vou ensinar um truque que funciona em grande parte das vezes: converse que nem gente. Esse é o melhor jeito de pegar alguém – vale tanto para homens quanto para mulheres. É claro que você – homem – vai encontrar muita mulher bitchy por aí. Blame it on your fellas babacas, que geraram uma postura defensiva em muitas moças. Mas você vai se surpreender com a quantidade de gente de quem vai conseguir se aproximar. Todo mundo gosta de uma pessoa interessante, divertida e que sabe levar uma conversa gostosa. Agora, se você não tem conteúdo para segurar uma conversa, aí já são outros 500, né, migue.

Encerro este manifesto com um convite: se você também compartilha deste meu pensamento, divulgue esta ideia.

E parem com as buzinas. Porra.



* Essa até foi engraçada e os caras não estavam realmente me cantando, porque logo depois arrancaram com o carro às gargalhadas. E senso de humor conta pontos positivos. Mas está aqui para exemplificar o tipo de coisas que circulam por aí.

domingo, 13 de novembro de 2011

It Might Be You (ou Todos os Domingos da Minha Vida)

“Wondering how they met and what makes it last
If I found the place
Would I recognize the face?
Something's telling me it might be you
Yeah, it's telling me it might be you”

Ele vinha cantarolando a caminho de casa no domingo, já quase hora do almoço. Já estava na casa dos 70. Já não tinha mais a cabeleira que costumava usar. Na verdade, os poucos cabelos que restavam, na lateral e parte de trás da cabeça, estavam quase todos brancos. Também estava branca a barba, comprida. Continuava magro. E não abandonava a camisa xadrez de azul e branco, a calça jeans desbotada e o tênis.

Em uma mão, tinha uma sacola retornável e na outra segurava o celular. Era o celular que prendia sua atenção enquanto caminhava e cantava – bem afinadinho, apesar de não se esforçar para tal. Na telinha pequena, o envelopinho mostrava que havia recebido mensagem. Era ela, perguntando se ele já estava chegando com a batata palha e a gelatina sem sabor.

Cantarolando e respondendo à mensagem (“já saí da padaria. Por que, quer que volte para mais alguma coisa?”), pensou em quem estava em casa à espera. Ela, os três filhos – 35, 31 e 28, respectivamente – e os netos. Ele tinha netos! Três! Mas a caçula ainda morava em casa – “o dia que ela sair...”, pensou com uma pontinha de pesar. Será que eles já haviam chegado ou ela o estava apressando à toa?

Uma coisa leva à outra e ele se lembrou de coisas de mais de quarenta anos atrás. Ela não era a mais bonita. Nem a mais popular. Nem a família dela tinha dinheiro. Mas que inteligência! Que senso de humor! Que cabeça moderna para os anos ’50! Todas aquelas ideias sobre a igualdade entre os sexos, sobre a independência feminina, sobre vivermos do jeito que quisermos e não do jeito que esperam que vivamos. Era feminista, ora essa! E ele adorava. Nunca havia conhecido uma mulher tão decidida, tão confiante, tão divertida. Foi impossível não se apaixonar por tudo aquilo.

Também foi difícil aprender a conviver com tudo aquilo. Foi difícil aceitar que algumas tarefas da casa seriam dele; difícil aceitar que, sim, ela continuaria dando suas aulas; muito difícil aceitar ter tido que esperar até os 38 anos de idade para o primeiro filho, já que ela ainda queria terminar o mestrado antes de ser mãe. Mas cada aprendizado era um laço a mais que se atava entre os dois. Cada obstáculo vencido indicava que estavam fazendo um bom trabalho na empreitada que escolheram de ser uma família.

Ainda cantarolando, chegou em casa. O filho do meio já havia chegado com a esposa. A caçula – era a cópia da mãe! – terminava o livro em que estivera agarrada nos últimos dois dias. Ela – esposa, mãe, mulher, pessoa complexa mas de desejos simples – apareceu na porta da cozinha e olhou para ele por trás dos óculos com aquele ar apressado de sempre. “Traz a gelatina aqui, senão essa mousse não vai endurecer!”

Levou a sacola até a cozinha. Olhou em volta. Sentiu o cheiro da casa, das suas coisas, da sua vida. Reconheceu toda a sua história naqueles segundos. Provou um sentimento de pertença que não sabia o que era desde as lutas contra a ditadura na juventude. Olhou para ela e teve certeza, mais uma vez, de suas escolhas.

“Something’s telling me it might be you
Yeah, it’s telling me it might be you
All of my life”




sábado, 12 de novembro de 2011

Otimista até o osso

Minha vida está uma merda. Mas eu não acho.

Estou desempregada; fazendo uns trocados dando aula de reforço pra uma menina de 10 anos; dando um tempo num namoro de sete anos; longe da minha família; tentaram envenenar meu cachorro pela quarta (repito: quarta) vez; não consigo ter disciplina pra fazer uma dieta de três semanas e emagrecer os três quilos que estão me incomodando desde janeiro; meu e-mail só recebe spams; descobri que nem para dona-de-casa sirvo, porque passo os dias inteiros enrolando no computador e faxina, que é bom, nada. Isso já dura três meses.

Mas só percebi a fase urucada em que eu estou anteontem, quando ouvi minha mãe me falar ao telefone “acho bom este ano acabar rápido, porque ele não está bom pra você, não”. Foi só aí que enxerguei que estou na merda. O que estou estranhando é que enxerguei isso como se fosse alguém de fora, como se esses problemas todos não fossem problemas de verdade, ou como se não fossem meus. E aí concluí que estou numa fase de ver o copo cheio.

Estou desempregada, mas recebendo salário desemprego (não é o ideal, mas dá pra pagar o supermercado); nas aulas particulares, relembro um monte de coisas que é sempre bom saber; o tempo no namoro está sendo precioso para eu me conhecer melhor e me relacionar melhor com o mundo; como não tenho compromissos fixos na cidade, posso ir frequentemente passar uns dias com a minha família; não emagreço, mas estou me achando bonita mesmo assim; meus e-mails só recebem spam, mas tenho conversado com muita gente pelo Gtalk; vou contratar uma faxineira com a grana das aulas particulares pra resolver o problema da faxina.

A princípio, então, está tudo ok. Fora o estranhamento de estar me sentindo bem com a vida na lama, tudo ok.

Neste mundo em que reclamar – principalmente nas redes sociais, pra todo mundo ver e palpitar – virou moda e onde as pessoas competem quem tem a vida mais cagada, eu não tenho medo de assumir: tá uma merda, mas tá bom. Porque cada célula do meu corpo é otimista.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sobre feiúra e inconveniências

Eis que estava eu com Otelo parada na calçada esperando o sinal abrir para a gente atravessar. De repente, ouço de trás de mim:

- Cachorro é feio assim mesmo?

Olhei e era um senhor, com aquela cara de impáfia que algumas pessoas assumem quando velhas, certas de que a idade lhes garante imunidade sobre tudo. Resolvi manter o bom humor e respondi com um “Deste jeito!” e um sorriso. Mas ele me desafiou:

- Mas por que ter um cachorro feio assim?

- É, ele é feio, mas eu amo ele – respondi, mesmo discordando sobre o Otelo ser um cachorro feio.

- !

Aí eu resolvi que era hora de pôr fim àquilo:

- O senhor, por exemplo. Também é feio, mas deve ter gente na sua família que te ama. – e soltei um sorriso puro, deixando o velho abusado com cara de toda a pontuação conhecida pela gramática.

Já dizia minha bisavó: quem fala o que quer, ouve o que não quer.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Essa coisa de internet

Dia desses fiz uma dinâmica de grupo em um dos processos seletivos para trainee pros quais me inscrevi (a saber, não fui aprovada em nenhum. But it’s ok). Uma das atividades propunha que um grupo discutisse sobre a questão de a internet aproximar ou afastar as pessoas. E aí começou aquele velho papo de que afasta, porque as pessoas deixam de se encontrar porque passam a se falar mais pela internet e que tem gente que para de viver a vida pra viver na internet e blábláblá.

Pois eu afirmo categoricamente: aproxima. É claro que existem os casos extremos, em que a pessoa se isola e deixa a internet se tornar o foco na vida. Mas, sinceramente? Essa pessoa iria se isolar em outras coisas se a internet não existisse. Não fossem os jogos online, seriam os videogames. Não fossem os videogames, seriam os filmes. Não fossem os filmes, seriam os livros, e assim sucessivamente. Quem quer se privar do mundo vai encontrar um jeito de fazê-lo. Agora, passemos à defesa da minha tese.

Era uma vez – e, não, você não está lendo o início de um texto novo – uma turma de alfabetização lá nos idos de 1990. Era a minha turma. Com a minha mudança de cidade, perdi contato com as pessoas que estudavam comigo e que poderiam ter se tornado meus amigos for life. Quase 20 anos depois, por meio do – finado – Orkut, consegui encontrar novamente algumas dessas pessoas e retomar o contato. Os scraps trocados e as catch up talks feitas via Gtalk me permitiram chamar essas pessoas para sair e descobrir que elas se tornaram adultos maravilhosos. Gente interessante, inteligente, cheia de conteúdo, bem humorada, decente, com caráter. E agora essas pessoas estão novamente na minha esfera de amigos, compartilhando comigo mais uma parte da minha vida. E aí eu pergunto: a internet aproxima ou não aproxima?

Também é somente por meio da internet que consigo manter contato com as pessoas que conheci durante meu intercâmbio. Separadas por um oceano e, às vezes, cinco horas de fuso-horário, é o São Facebook e o São Gtalk que me permitem ainda manter essas pessoas próximas. É por meio dessas ferramentas que eu consigo contar a elas o que está acontecendo comigo e saber o que anda rolando nas bandas de lá. Foi por meio delas que já fui duas vezes a Salvador encontrar um dos meus melhores amigos feitos em Bolonha. Isso sem falar nas pessoas que estão fazendo intercâmbio agora e que mandam notícias diárias por meio da internet. E eu pergunto: a internet aproxima ou não aproxima?

Por fim, temos a situação que me inspirou a fazer este post. As formas de interação proporcionadas pela internet permitem certos fenômenos curiosos, como o fato de ser amigo de uma pessoa que você nunca viu pessoalmente. Está aqui uma prova contundente disso. E aqui mais outra. Funciona assim: você começa a ver as coisas de uma pessoa publicadas em site/blog/twitter. Se identifica com o que essa pessoa fala e percebe que essas coisas te acrescentam muito. Por causa da maravilha da Internet 2.0, consegue interagir com essa pessoa e, de fato, trocar ideias com ela. Em alguns casos – como no meu em relação ao Rob Gordon, do Champ – essa troca de idéias é continuada por anos e o que era uma amizade intelectual começa a virar uma amizade de verdade. Amizade em que você ri e chora junto; se preocupa se a pessoa está bem; pensa no que ela irá pensar – e, muitas vezes, acerta – sobre algo que você falou; dá, pede e recebe ajuda.

Mais uma vez, pergunto: a internet aproxima ou não aproxima as pessoas? Como tudo nesta vida, a internet é o que você faz dela. Faça boas escolhas, e a internet será uma wonderland, de infinitas possibilidades para alargar seus horizontes. Faça más escolhas e fique aprisionado ao universo dos sites de fofoca e das indiretas/reclamações no Facebook para sempre.