terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Tudo sobre minha vida como ela é

16 de dezembro, aniversário do meu avô (77 anos, saúde de garoto). Naturalmente, liguei para dar os parabéns.

Após breve conversa, vô Zezinho passa o telefone para alguém, dizendo que uma “criatura de Brasília” queria falar comigo. Pegou o telefone uma moça muito simpática, mas desconhecida. Elogiou meu avô e, com muita intimidade, perguntou quando eu iria lá para que ela pudesse me conhecer. Apresentou-se como Ana e, a pedido meu, tornou a passar o telefone para meu avô.

Intrigada, perguntei a ele com quem eu havia falado. Ao que ele me disse: “é a Ana”.

- Mas quem é essa Ana, vô?


- Ana é a mulher do ex-marido da ex-mulher do seu tio – disse meu avô com uma voz de riso, e gargalhou.

Não sei se me senti em um conto de Nelson Rodrigues ou em um filme do Almodóvar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Pro memoria

Lição do dia: A gente tem que escolher tendo a possibilidade do sim.

Nota mental para mim mesma: NUNCA MAIS eu vou deixar de arriscar alguma coisa por não saber se vou querer ou poder fazê-la. Primeiro eu tento. Conseguindo, depois eu decido se quero.

Hoje aprendi a reconhecer uma oportunidade e não deixá-la passar incólume na minha frente. Talvez tenha sido a lição mais importante dos meus anos de faculdade...

“Às vezes o sim é o descuido do não
Sei lá, sei lá... a vida tem sempre razão”

Trompe l'oeil

Tem horas em que me arrependo de não andar com minha câmera fotográfica para cima e para baixo. Aliás, ela agora deu defeito, então nem adiantaria...

Mas fato é que ontem, indo para o trabalho, vi dois operários da Prefeitura de BH com seus uniformezinhos típicos. São blusões e calças de sarja vermelhos, com listras brancas. Eles estavam usando capacetes vermelhos e pendurados em um andaime onde costumava ser a Casa do Whisky.

Achei que fossem os Papai Noéis do Pátio Savassi.

sábado, 15 de novembro de 2008

Bring on the salt

Diz o velho ditado que só se conhece uma pessoa depois de ter comido um quilo de sal com ela. Isso porque, para se comer um quilo de sal, é necessário passar muito tempo juntos. Diante disso, duas hipóteses se colocam diante de mim: ou cinco anos não são suficientes para se comer um quilo de sal com alguém, ou esse parâmetro deve ser revisto.

Imagino que ninguém esteja entendendo nada. Por isso explico. Eu, leitores, namoro o mesmo Namorado há cinco anos. Já estávamos pensando em nos casar – sim, estáVAmos porque agora devo reconsiderar – fazíamos planos para nossa lua-de-mel na Disney.
Eis que três dias atrás escrevi este post, contando as agruras de um dia torto. E eis que me aparece do Namorado o comentário que segue:

“Imagino se eu tivesse feito isso em minha mão, no dia seguinte teria achado que fui a um show na noite anterior em que o cara da bilheteria escreveu isso em minha mão para sair e entrar no show sem precisar deixar a identidade.”

Agora eu pergunto: comassim, imagina que teria ido a um show??? O que esse Namorado anda fumando para cogitar não se lembrar de ter ido a um show na noite anterior???

Haja sal...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

19 horas

Porque tem dias em que as coisas saem todas meio tortas, meio inacabadas e ainda se atropelam umas às outras. Pois é, duas quintas-feiras atrás foi um dia desses. Ou melhor, foi um dia daqueles.

Acordei um pouquinho mais tarde do que de costume para ir trabalhar, me arrumei correndo e saí de casa sem tomar café-da-manhã. Fui para o estágio, mexi em uma ou duas coisinhas e desci as escadas para o evento que estava programado para o dia. Depois do café (finalmente), compareci à reunião de trabalho que também estava programada. Saí meia hora mais cedo poque tinha consulta no oftalmologista. No carro, lembrei que estava de lentes de contato e, pior, que não havia levado nem meus óculos nem o estojo das benditas lentes. Só me restava seguir viagem, porque não dava nem para pensar em passar em casa. Chegando na clínica, coloquei as lentes em dois copinhos descartáveis e fiquei cegueta por quase duas horas. O exame atrasou, e a menina com quem eu deveria fazer um trabalho à tarde me ligou, perguntando se dava para eu levar meu notebook porque não teríamos computadores à nossa disposição. Respondi que poderia passar em casa e pegá-lo depois que saísse do médico. O exame terminou dez minutos antes da hora em que eu deveria estar a uns 15 quilômetros de distância, na Pampulha. Corri em casa, falei “oi” para a moça que dá faxina aqui, passei a mão no computador, comi um pedaço de bolo, fiz ele descer com um copo de água, falei “tchau” para a moça da faxina e saí. Dilema: colocar os óculos de grau e ser atormentada pela luz do sol ou continuar com as lentes e ficar com as pupilas dilatadas até o dia seguinte? Pupilas dilatadas e óculos escuros. No caminho para a Federal, lembrei que havia esquecido meu pen drive no porta-luvas do carro da minha mãe e que ele agora estava em Niterói. Whatever, dá-se um jeito. Phoda mesmo ia ser corrigir matérias sem enxergar, com as pupilas do tamanho de bolas de gude. Cheguei na faculdade, comprei um sanduíche natural e um mate de copinho – light – e fui surpreendida pelas minhas companheiras, com quem eu deveria editorar algumas matérias para a revista Outro Sentido. Terminei de comer meu almoço (é, almocei sanduíche) lá pelas 14:30 já abrindo o computador. Começamos por uma matéria com alguns problemas, mas nada de grave. Nos descabelamos na segunda matéria, que tinha problemas sérios que nem imaginávamos como poderiam ser resolvidos. Cada um com seus problemas: quem escreveu que arrume. Terceira matéria e nós já estávamos exaustas, demos uma olhada rápida, e “via”. Menos mal que era minha e de uma das meninas que estava editorando. Isso já era perto de 19:30, hora em que saí da Fafich. Indo para o carro, encontrei uma amiga dos tempos de dança, com quem não falava havia mais de dois anos. Vinte e quatro meses colocados em dia em coisa de uma hora e meia, o que me fez voltar pra casa às nove da noite. Cheguei azul de fome e devorei o que tinha na minha frente: outro pedaço de bolo e cheetos integrais. Ainda tinha esperanças de estudar, mas estava morta de cansaço e resolvi tirar “meia hora de cochilo”. Acordei meia-noite e meia, bêbada de sono. Tomei um banho, escovei os dentes, passei meus cremes e despertei. Comecei a pensar nas 103 coisas que eu deveria fazer no dia seguinte e não conseguia mais dormir. Resolvi escrever nas costas da mão as iniciais das minhas obrigações para aliviar a cabeça e poder dormir tranquila. Peguei uma caneta preta, mais difícil de apagar, e escrevi: M J D C. Dormi.

No dia seguinte de manhã, quando acordei, olhei para as letrinhas e pensei:

- O que era o D?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Hoje, indo para o trabalho, senti uma vontade enorme de gritar.

Estava no trânsito, janela do carro aberta. Em frente ao Pátio Savassi. A moça do Gol (ou seria Ka? Ou Fox? Whatever...) ao lado estava me olhando. Aumentei o som do rádio, olhei para cima e respeirei fundo. Fundo, como se fosse sugar o mundo todo pelo nariz e pela boca. Fiquei bêbada de oxigênio e empurrei a vontade de gritar para o buraco que fica perto do meu estômago.

Droga. Deveria ter gritado.


PS: Leitores, mais uma vez, desculpem-me pela ausência nas últimas semanas. Como diz Rob Gordon, tem vezes que o post não sai. Tem outras vezes, que o post quer sair, mas o blogueiro não encontra tempo para escrever. Outras vezes, ainda, ele tem tempo e tem post, mas não tem... simplesmente não tem.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O 1ºencontro

De motos. Esse post vai tratar do primeiro encontro de motos a que eu fui. E do grande aprendizado a respeito dos gêneros de motociclistas.

Foi três findis atrás, em Mariana. Namo e eu saímos daqui com o pessoal do clubinho em um sábado de manhã, devidamente equipados e paramentados – eu ainda sem a minha jaqueta, mas este problema já foi resolvido.

Depois de nos perdemos em um arraial depois do cu-do-judas, chegamos em Mariana. A cena não podia ser diferente: motos esportivas, motos modificadas, motos clássicas, supermotos, motos de trilha, motos, motos, motos... Muita jaqueta de couro, muitas franjinhas de couro, muita loura de bota de cano longo por cima da calça. Tinha também um palco com uma “banda” de rock. Não me lembro o nome, mas lembro perfeitamente que era ruim. Muito ruim mesmo.

Mas o grande aprendizado vem agora: o pessoal que curte motos não é uma tribo. Eles são uma sociedade, com suas sub-divisões internas. Nesse dia, em Mariana, descobri que, para cada tipo de moto, existe um tipo de motociclista diferente. E lá também pude observar o comportamento deles em seu habitat.

O primeiro tipo que notei foi o pessoal das motos esportivas. Boys e, principalmente, boys velhos. Jaquetinha coladinha ressaltando a barriga – que eles insistem em murchar, achando que enganam alguém – capacete caro com o que há em aerodinâmica, escondendo suas prováveis carecas. Aceleram suas R1, Hyabusa, Kawasaki Ninja, produzindo um som que, combinado à “banda” de rock enlouquece qualquer vertebrado. E isso não é no bom sentido.

Depois, é impossível não notar o pessoal dos triciclos. Um dos amigos do clube de motos que freqüento certa vez disse que quando ficar velho, “cheio das labirintites”, vai comprar um triciclo, porque assim não corre o risco de desequilibrar para nenhum dos lados. Imaginou então o perfil dos triciclistas? Além disso – que me perdoem – mas é com eles que se verifica que mau gosto não tem limites. Capacete revestido de Durepoxi com formato de caveira, anéis modulares de caveira, caveirinhas com lanterninhas nos olhos em cima dos “veículos”. Um estilo trash-kitch talvez. Mas ficam na deles, não incomodam ninguém.

Muito próximos aos triciclistas, vêm os tiozões das motos street. São as Harley-Davidson, por exemplo. O fato de serem tiozões é inegável, e por um motivo muito simples: só eles têm dinheiro para investir em uma moto desse porte. Quase nunca aparecem só com suas motocas. Na maioria das vezes, eles se apresentam com o kit que adquirem no ato de compra da Harley: a moto, a loura oxigenada e a barriga de chopp apertada dentro de uma calça de couro e escapolindo do colete de mesmo material. Fazem parte do kit também os dois moleques pentelhos, mas esses normalmente ficam em casa com as babás – afinal, por maiores que sejam, as motos continuam comportando no máximo duas pessoas.

Falta falar do clã das big trails, que são motos de trilha, mas bem grandes. Não por acaso, é o grupo de que faço parte. É um pessoal discreto, sem papagaiada e sem shows de aparecimento. Nada de roupa coladinha, nada de caveiras e franjinhas. Nada também de ficar acelerando moto, exibindo o brinquedinho para os amiguinhos.

Acho que nem preciso dizer que as generalizações têm um caráter didático, e que as exceções estão presentes em todos os grupos, sub-grupos, inter-grupos etc etc etc. Mas, se tiverem a oportunidade, observem essa sociedade à parte que são os curtidores de motos para checar se os perfis conferem. E depois, claro, voltem para me contar!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O que eu quero

Escrevi o texto abaixo para uma matéria na faculdade e achei que estava com toda a cara do blogue. Leiam e contem-me o que acharam!

Eu quero ser mãe, mulher, esposa, chefe, senhora, cliente, menina. Eu quero me embriagar de boa música, comer poesia, cheirar bons filmes e degustar lugares. Levar quem faz parte de mim às cidades de onde já fiz parte. Eu quero ficar velhinha indo a baile da Terceira Idade no Sesc. Quero ter meia-entrada no cinema para sempre, e desejo profundamente pipoca mais barata e sem calorias.
Cidade sem trânsito, chocolate sem espinhas, emagrecer sem sofrer, amar sem doer.
Quero morar em uma casa espaçosa, onde cada um dos cinco filhos tenha seu próprio quarto. Isso um dia desses... Agora, quero mesmo é que minha sala tenha um sofá, ou as tão prometidas almofadas no chão, sobre tapetes. Dia desses também me casar. Sem festa, nem padre, nem buffet com canapés de maionese e uvas passas. Mas quero me casar de chapéu.
Quero conhecer Salvador, o aquário de Gênova, passar por Porto, ver o mar da Grécia, reencontrar uma amiga, reviver uma história, “ressaborear” um prato.
Eu quero conseguir correr sem colocar a língua para fora nos primeiros 500 metros, aprender a dar salto mortal, manter a flexibilidade, criar calos nas mãos.
Quero me divertir.

sábado, 23 de agosto de 2008

Do findi (de um mês atrás) e outras coisas

Primeiramente, sinto-me na obrigação moral de me desculpar com vocês, leitores, pela ausência nas últimas semanas. Término de férias e volta às aulas é sempre um período para exercitar nossa habilidade de gestão de crises na Federal. Entre optativas, seminários de habilitação e projeto e (malditas) eletivas, terminei o período de matrícula com o seguinte cronograma:

Segunda-feira 08:00 – 12:00 > Bidimensionalidade I na Belas Artes (dedicarei um post especialmente a isso posteriormente)

Terça-feira 07:00 – 08:00 > Vou correr na rua (Projeto Corpão 2008)

09:10 – 11:10 > Seminário de pré-projeto

Quarta-feira 08:00 – 11:40 > Laboratório Outro Sentido (espécie de estágio supervisionado da Comunicação onde aprendemos a fazer uma revista e escrever para ela)

Todos os dias à tarde > Estágio

A bem da verdade, é a vida que pedi a Deus. Mas para chegar até aí, foram longas horas choramingando na frente dos colegiados.

Uma coisa que se intensificou na mesma proporção em que os posts diminuíram foi minha vida cultural. E aqui reencontramos aquele fim-de-semana de mais de um mês atrás. O mesmo em que eu fui a um encontro do clube de motos de que eu e o Namo fazemos parte (leia aqui) e em que fui à feira e tive que dar carona para uma completa desconhecida cara-de-pau (e aqui).

Após todas as confusões para comprar os ingressos, o Namo, minha amiga-fiel-escudeira e eu finalmente conseguimos nossas entradas para o espetáculo da Mimulus Companhia de Dança. É um grupo de dança de salão de Belo Horizonte, que tem uma linguagem super moderna, além de ter o corpo de baile composto por pessoas jovens, desmistificando a imagem da dança a dois. Pois bem, fomos vê-los.

O espetáculo era inspirado no universo do Almodòvar, o que já garantia um clima ótimo. Além disso, a trilha era toda retirada dos filmes dele, então não poderia dar errado. Para completar, o cenário e o figurino eram ma-ra-vi-lho-sos!!! Isso sem falar na iluminação de cair o queixo! Some-se a isso bailarinos com uma capacidade técnica extraordinária e uma linguagem de dança-de-salão inovadora e tem-se uma pálida idéia do quão boa foi a apresentação. Twist dançado com música eletrônica, boleros com Cucurucucu Paloma cantada por Caetano Veloso e tangos apaixonados e vibrantes fizeram uma hora e meia passar como uma brisa. O ponto alto, na minha opinião, foi uma coreografia dançada por dois homens, representativa das relações homossexuais dos filmes do diretor espanhol. Sensualidade, comédia, drama, angústia, dilemas, tudo na medida certa. Por falta de uma palavra melhor, digo que o espetáculo da Mimulus foi SENSACIONAL! Recomendo.

Depois veio o show com Chico César. Lindo! Também no Palácio, mas dessa vez, na sala Juvenal Dias. A proposta era fazer um show mais intimista, em que ele pudesse cantar, ler algumas das poesias de seu livro e contar um pouco de sua história, sempre com a interação do público. Músicas mesmo foram só umas cinco, e não mais que três poemas. Mas tudo durou duas horas e dez. Chico César, vestido com uma calça de pano de toalha de piquenique (quadriculadinha de vermelho e branco) e uma camisa listrada de rosa e branca, relembrava os casos de quando era pequeno, lá em Catulé do Rocha, e de sua passagem por João Pessoa e São Paulo. Contava tudo como se nos conhecesse há anos! Saí do teatro com uma vontade enorme de chegar na primeira loja de discos que visse e falar “Moço, me dá tudo o que você tiver de Chico César”! Obviamente, minha condição de estagiária não permite, e tive que me contentar com baixar “Odeio Rodeio” (que você pode conferir abaixo) na internet.

O outro evento cultural phoda desse período foi o show do Luiz Melodia a R$ 10. Ele chegou, lindo de terno branco e sapato bicolor, com seus dreads meio amarrados no alto da cabeça. Cantou os maiores sambas das décadas de 20 e 30 com aquela voz aveludada que lhe é peculiar. Lá pela metade do show, nos deixou em companhia de sua banda, excepcional, e fez uma pausa para ir ao camarim. Duas músicas depois, voltou ainda com a calça do terno branco, mas com uma camisa de seda estampada e sandália de couro branco, ao melhor estilo bicheiro. Daí para a frente foram só sambões dos anos 50 e 60. Começou a cantar “Neguinho mostrou a barriga pra madame”, e abriu a própria camisa, totalmente à vontade. Carismático e sambando como eu nunca havia visto alguém fazer na vida, saí do teatro absolutamente encantada, hipnotizada! O Negro Gato, a Pérola Negra e a Magrelinha não compareceram, mas já era de se esperar: “é um show exclusivamente de sambas”, ele disse. O único inconveniente foi a falta de espaço para sambar. Me segurei fortemente até o finalzinho, mas quando aquela negona parruda subiu no palco, sambando majestosamente e cantando com uma voz que parecia vir de deus, cedi. Me levantei e dancei. Dancei muito, até ficar suada.

Ontem foi a vez de Toquinho, com o show comemorativo dos 50 anos de Bossa Nova. Uma fórmula que não tinha como dar errado! De fato, mais uma hora e meia da minha vida que eu nem vi passar, tamanho era o prazer envolvido na situação. Como diz Rob Gordon (com relação a objetos musicais diferentes, obviamente), quando ele terminou de tocar a primeira música – Tarde em Itapoã – eu já queria ir lá fora e comprar outro ingresso, porque o que eu havia comprado já tinha sido gasto só naquela música. E depois, Chega de Saudade, A Casa, O Caderno... Não preciso nem dizer que teve Aquarela – minha música preferida since ever – mas é importante notar que Regra Três ficou de fora do repertório. Ele não poderia tocar TODOS os seus sucessos... certo? Mesmo assim, Toquinho está perdoado: terminou o show com Trem das Onze e fez dois bis! Foi tão bonito que chegou a doer.

E assim passei minhas últimas semanas, leitores. Entre aulas, estágio, desenhos, intensivão de circo, vida de semi-casada com meu Namorido, shows maravilhosos, despedidas e reencontros. Sem grandes dilemas e aceitando muito mais as coisas com as quais estive lutando nos últimos meses. Feliz, muito feliz!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Prestando contas

Leitores,
soooooooo sorry pela ausência de posts nos últimos dias! Fui para o Rio semana passada, arrumei a mala correndo, fechei o armário e saí correndo para pegar o ônibus. Nem deu tempo de deixar um bilhetinho...
Agora estou às voltas com uma última bendita eletiva da qual tenho que correr atrás para poder me formar semestre que vem. Help, I need somebody, not just anybody!
Assim que este problema estiver resolvido, voltaremos à nossa programação normal (espera-se).

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Do findi - 2ª parte

... (leia a 1ª parte aqui)


- Grummhpf

- Ai, Mozão, você é lindo! Obrigada! Agora boa noite.

Dormi e sonhei a noite inteira com motos, andar de moto, conversar sobre moto etc etc etc. Acordei cansada, mas cheia de disposição para ir à feira*. Marquei com uma amiga minha, armei com o Namo toda a estratégia de guerra para ele pegar meu carro e me deixar lá. Quando ele fosse me buscar, compraríamos os ingressos para o espetáculo de dança da noite. Eu não podia ir sozinha por dois motivos: 1) não é possível encontrar vagas para estacionar o carro a menos de um quilômetro e meio da feira e 2) era fundamental que os três comprássemos os ingressos juntos por uma questão de carteirinhas de estudantes, lugares juntos, melhor posição dentro do teatro... E, assim, ficamos combinados que eu ligaria para ele na hora em que estivesse pronta para ir embora.

Algumas horas depois, minha amiga e eu já havíamos encontrado de tudo: bolsa, sandália, outra sandália, outra ainda, Fábio Martins** com sua Senhoura passeando na feira (juro!), e nada de sapatinho, nem de carteira vermelha, que era o que tínhamos ido comprar. Decidimos, então, ir para o Palácio das Artes, para os ingressos, mas descobrimos que a bilheteria estava fechada e só abriria às 14h. A essas alturas, eu já havia ligado para o Namo, que já tinha até estacionado o carro e só não estava vindo nos encontrar porque eu já o havia dito que não poderíamos comprar os ingressos naquela hora. Minha amiga foi embora, e eu ainda girei um pouco por lá, na esperança de achar a bendita carteira. Por isso, me atrasei (muito) para ir encontrar o Namo, que já estava furibundo.

Subindo a Afonso Pena, uma senhora olha para trás, na minha direção.

- Você tá indo pra onde??

Sem saber se a senhora era estrábica e estava falando com a pessoa que estava atrás de mim, ou se era comigo mesmo, olhei em volta, para todos os lados.

- ? ... Eu?


- É, você!

- ... Estou indo ali para cima...

- Ah, eu também. Você que é nova pode ir correndo. Meu joelho já não agüenta mais isso, não.

Sendo assim, continuei... Estava realmente andando rápido, consciente que qualquer minuto mais cedo que chegasse até o Namo, seria um centímetro a menos de tromba para encarar durante a tarde.

Quando parei na esquina em que havíamos combinado de nos encontrar, nada de Namo. Liguei para ele e descobri que ele estava com o carro estacionado um quarteirão acima daquele ponto.

- Então vem para cá, Mozão, porque aqui é caminho mesmo...

- Gruarrrr

E estava eu lá, bonitinha, paradinha, quando de repente, não mais que de repente, ouço:

- Ué, parou???

Era ela, a mulher de dois quarteirões antes.

- É... a pessoa ainda não chegou para me pegar...

- E você está indo para onde??

- Uai... Daqui vou para a minha casa...

- Ah... ... ... E você vai subir aqui???

- Ahn... Não sei... Preciso ver com o rapaz que vem me buscar... (realmente não sabia, estávamos indo para a casa do pai dele)

- Me dá carona? Quando eu estiver de carro eu te dou! (Nota da autora: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

- Olha... vou ver com ele... Se a gente for por esse caminho, eu dou..., falei, esperando que o Namo dissesse simplesmente que não, ou que seguisse por um caminho diferente, que não passasse por onde ela queria.

Dois minutos depois e vejo aquele carrinho sujo, empoeirado, cagado de passarinho. Reconheci Zé Bento (sim, meu carro também tem nome) de longe: "É ele". Imediatamente após ele ter estacionado, a senhora se jogou com meio corpo para dentro da janela do carro, perguntando se nós iríamos subir a Afonso Pena e pedindo carona como se nos conhecesse há anos!

- Claro, entra aí! Na verdade, eu ia seguir a Alfredo Balena, mas não tem problema, não. (Nota da autora: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

E ela entrou, com suas vinte e três sacolas plásticas, seus tênis, sua calça de ginástica e seus cabelos tingidos de louro, no banco de trás do Zé Bento. Em aproximadamente quatro minutos, que foi quanto durou o trajeto, ela nos contou sua vida inteira:

Mãe-de-três-filhos-dois-formados-uma-publicitária-desempregada-que-estava-em-dúvida-entre-fazer-uma-pós-no-exterior-ou-prestar-vestibular-para-Medicina-o-pai-disse-que-paga-particular-então-faz-minha-filha-sabia-que-quem-é-formado-em-educação-física-já-entra-no-segundo-ano-de-Medicina-nessa-faculdade?-então-tá-obrigada-tchau-viu!

Oito letras para essa cena: SEM NOÇÃO!

Meio atônitos, Namo e eu seguimos nosso rumo, eu ainda tentando convencê-lo de que os bombons que eu havia comprado para ele eram motivo suficiente para ele desculpar meu atraso/erro de cálculo, e ele resmungando/rosnando/reclamando/choramingando.


A notícia "boa" era que ainda teríamos que voltar naquele mesmo cenário hostil dali a cerca de três horas para comprar os ingressos para o espetáculo que queríamos assistir à noite.

tobecontinued...



*Para quem não conhece, BH tem uma enorme feira de artesanatos todos os domingos, em que se pode encontrar de móveis para casa a sapatos. De acarajé a bombom hidrogenado. De brinquedo educativo a carteiras. De quadros de gosto duvidoso a bijouterias de prata peruana...

** Fábio Martins é um professor do Curso de Comunicação Social da UFMG que deve ter, atualmente, por volta de seus 75 anos. Ele foi aposentado compulsoriamente da Universidade, mas continua trabalhando como Professor voluntário. Breve descrição: cabelo branco -amarelado, barba bem feita, voz de locutor (ele é o antológico radialista que soube do Golpe de 64 na véspera!), calça social clara, camisa social de manga curta listrada e sapato social marrom.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Do findi - 1ª parte

Terminado o fim-de-semana, eu estava certa de que escreveria um post sobre ele. Primeiro, pensei em falar sobre o sábado, em que fui aplicada ao clube de motociclistas (e ai de quem disser “motoqueiros”) do Namo. Mas como deixar de fora o episódio da “feira hippie” domingo de manhã? Ou o fantástico espetáculo da Mimulus Cimpanhia de Dança, à noite? Por isso, no melhor estilo robgordiano (veja aqui ao que me refiro), me resolvi por uma saga. Nada como as do referido, mas simplesmente um supertexto – em tamanho ao menos – dividido em partes, para vocês saberem do meu findi (a quem possa interessar...)

Antes de falar sobre o sábado, é necessário dizer que o Namo é um aficionado por motos. Nosso segundo beijo foi apoiados sobre a sua antiga Sahara branca (que eu apelidei de Cavalo Branco Hi-tech, porque todo Príncipe Encantado precisa de um cavalo branco), ele reconhece o modelo da moto só de ouvir o barulho, me troca por ficar procurando peças para a moto dele na internet etc etc etc.

Por causa desse gosto do Namo pelas motocas ele passou a freqüentar um motoclube. Todas as quartas-feiras ele vai ao clube do Bolinha, toma umas Coca-Colas – culpa da lei seca – e vem para a minha casa dormir. E, acreditem, ele vem dormir.

É aí, quando o motoclube entra em questão, que começa meu sábado.

- Amor, você vai pro Rio esse fim-de-semana?


- Vou, não, Benzão.

- Então nós vamos ao encontro do pessoal do clube lá em Matozinhos.

Democraticamente resolvido isso, eu resolvi que não iríamos carregar barraca de acampamento, dois colchões infláveis, um saco de dormir e um edredom, além de roupas, em cima da moto para dormirmos lá.

Acordamos sábado de manhã, vestimos as armaduras e fomos para o ponto de encontro do pessoal para irmos juntos para o local do evento. Até para mim, que sou leiga no assunto, foi fácil reconhecer onde estavam os “meninos” (e o Namo sabe o porquê das aspas). Uma moto maior que a outra, um motociclista mais equipado que o outro, e várias trouxas de coisas penduradas em vários dos lados dos bi-rodas.

Conheci os primeiros integrantes do clubinho e fiquei satisfeita, aliviada e contente por serem todos muito divertidos e receptivos. Ficamos ainda uns minutos lá esperando os outros que ainda não haviam chegado. Vinte minutos de conversa depois e o assunto ainda não tinha variado uma vírgula: motos. Juro que cheguei a pensar “Será que vai ser isso o dia inteiro?” Mas logo depois o grupo estava completo e nós partimos.

Nas várias vezes em que peguei a BR-040 indo para o Rio ou voltando para BH, não raro vejo um grande grupo de motos, com caras super equipados em cima. E confesso sempre ter achado muito legal. Mas legal mesmo era, agora, estar dentro de um desses grupos. Os “meninos” puxando a fila e a gente seguindo. Interessante reparar no companheirismo, no senso de proteção de uns com os outros, nas linguagens que usam para se comunicar.

Sessenta quilômetros de estrada de asfalto e um de estrada de terra depois, eis que chegamos ao sítio onde se deu o encontro. Canequinhas com a logo do evento, pessoal uniformizado, muito churrasco, cerveja rolando, papo – sim, sobre motos, sempre – muita gente legal e, quando vi, já estava na hora de voltar para BH. “Ah, Namo, da próxima vez a gente fica pra dormir...”

Vesti a parafernalha (bota, meião, caneleira, calça comprida, blusa de manga, casacão, cachecol, touca de frio, capacete, óculos) toda de novo e montei na Celestina (sim, a moto do Namo tem nome). Só senti tamanha dor na bunda – naquele ossinho que dói quando se anda de bicicleta depois de muito tempo – em Bolonha, justamente no segundo dia andando de bici para cima e para baixo. Quase quis voltar para casa caminhando, mas era realmente inviável, então fiz a viagem toda de menesguei, revezando qual lado da bunda ficava socando na moto.


Chegamos em casa cedo, mas completamente acabados de cansaço. Minha boca estava coberta de pó de asfalto, e eu só tive energia para tomar um banho e dormir.

- Benzão, me leva na feira amanhã cedo?

tobecontinued...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Projeto 2008

Sei que estamos em julho, e os planos de ano novo já foram feitos há muito tempo pela maioria das pessoas. Porém, meu ano novo começou oficialmente em março. Mais precisamente lá pelo dia 15, que foi quando eu cheguei por inteiro no Brasil*. E, junto comigo, chegaram meus projetos para 2008. Arrumar um estágio, juntar dinheiro para viajar mais, ser uma Relações Públicas e, obviamente, o Projeto Corpão 2008.

Se você está pensando em ver uma Kel gostosona em alguns meses, esqueça. O projeto nada mais é do que eu dar um jeito de permanecer nos 59 quilos e não ficar flácida. E, após oito meses comendo de tudo no Velho Mundo, eu realmente precisava de alguma ação nesse sentido.

Meus planos começaram muito bem. Algumas semanas após meu retorno, eu enfiei na cabeça que iria começar a fazer aulas de circo. E comecei! Apesar de ser 100% diversão e de ter me dado muquinhos nos braços após um mês de aulas, percebi que o circo não me ajudaria a voltar para a quinta dezena na balança.

Conversando com uma amiga e elogiando sua forma física, ela me contou que havia começado a correr. Pronto. Eu havia encontrado o segundo pilar do Projeto Corpão 2008! Naquela mesma semana, coloquei meus tênis, enchi o iPod de musiquinhas animadas e fui à luta!

No primeiro dia, queria morrer. Juro! Depois de meia hora entercalando corridinhas e caminhada, cheguei em casa vermelha, com a língua pendurada igual a uma gravata. Isso sem falar nos pés, que somavam um total de seis bolhas. Mesmo assim, insisti e corri mais duas vezes naquela semana. E ainda que eu mumificasse meus pés com band-aids, não houve Cristo que fizesse as bolhas pararem de surgir. O jeito foi dar um tempo até meus pés melhorarem. E comprar um tênis novo (aventura que foi narrada nesse post aqui).

Quando as bolhas já estavam saradinhas, veio a gripe. Fiquei três dias de cama (como também já contei em outro post) e achei que fosse ser o fim do meu projeto. Para minha surpresa, a gripe me fez um bem danado: devo ter emagrecido uns dois quilos, pelo que me dizem minhas calças e o espelhão do banheiro!

Recuperada, voltei a correr anteontem. Quis morrer de novo, principalmente porque ainda estou com um quê de tosse e fico ofegante só de subir um lance de escada. Mas fiquei muito feliz de não ter abandonado essa etapa dos planos. O tênis novo é ótimo, e o iPod ainda tinha músicas inéditas a serem escutadas. Tomei meu merecido banho obstinada a manter o ritmo, e fazer esse exercício três vezes por semana. Hoje deixei de ir para escrever o post (não precisa falar, eu sei). Mas ainda está em tempo, a semana está pela metade! Wish me luck, people!




*Para quem não sabe, fiz intercâmbio na Italia no segundo semestre do ano passado e ele se estendeu até essa data.

sábado, 12 de julho de 2008

Caros leitores,
não sei por que motivo bizarro o blogger deu pau e cortou um pedaço do meu último texto. Problema corrigido, e agora vocês vão achar menos que surtei definitivamente. Enjoy!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Surto de uma solteira-sozinha

Morar sozinho é uma situação que pode acabar se tornando até um pouco perigosa. O solteiro-sozinho adquire hábitos, manias, vícios, rituais que as demais pessoas não compreendem, e dos quais ele não consegue se desfazer facilmente. Fica meio anti-social mesmo. Assim sou eu, morando sozinha há alguns meses e cuidando de mim de forma independente de pais e família há esses meses mais oito anteriores.

No mundo do solteiro-sozinho, a presença de outras pessoas hospedadas dentro de casa pode ser um fato extremamente arrasador, que altera a rotina e desequilibra o dia-a-dia. A outra pessoa vem cheia de boas intenções, oferece ajuda, faz algumas coisas sem perguntar, guarda tudo o que está fora do lugar. Assim é quando minha mãe está passando uns dias comigo.

Enquanto tive papai e mamãe sob o mesmo teto, eu não sabia o que era lavar roupa (passar, não sei até hoje, pois visto tudo do jeito que sai do varal), cozinhar, lavar banheiro, varrer casa, lavar louça... Tudo isso, e tantas outras coisas que fazem parte do kit Cuide-da-Sua-Própria-Vida, eu tive que aprender na marra, enquanto morava a 12 mil quilômetros de casa. E aprendi. Aprendi tão bem que desenvolvi minhas próprias técnicas para cada uma dessas coisas. Peguemos como exemplo a lavagem das roupas. Tem que separar a lingerie do resto e colocá-las em um saquinho especial que impede que a máquina as estrague! Assim encontramos o primeiro problema da visita da minha mãe.

Ela chegou hoje de manhã, eram 6:30. E eu nem me importei de ela ter me ligado esse horário para saber a senha do alarme do prédio, me acordando no dia em que eu só iria trabalhar à tarde. Aliás, eu estava felicíssima em tê-la comigo. Estou ainda, na verdade. Mamãe tomou seu café-da-manhã e já partiu para suas boas ações de quando ela vem para cá: colocar as coisas em ordem, deixar feijão cozido no freezer, passar algumas roupas (que até estranham o tratamento). E a primeira ação do dia foi esvaziar meu cesto de roupas sujas.

Gracinha da parte dela, não é? Também acho. Mas estragar minha calcinha branca de rendinha, linda, que comprei em Bolonha é sacanagem! O fato de eu colocar a lingerie em um saquinho de telinha não é apenas rabugisse de solteiro. Isso tem um objetivo, que é, justamente, não estragar minhas calcinhas de renda, por exemplo!

Ok. A crise da calcinha não está superada, mas vamos em frente. Enquanto a roupa lavava, minha mãe e eu fomos ao supermercado, deixando recomendações à moça que faz faxina aqui em casa para que ela estendesse a roupa. Segundo ponto de atrito.

Acho que já está entendido que eu não passo as roupas. Mas, para isso, é necessário um cuidado cirúrgico no momento de estendê-las. Todas do lado certo, esticadinhas, sem pregador para não marcar, ocupando realmente o espaço que ocupam no varal (ou seja, nada de socar roupa em uma mesma cordinha para caberem mais peças). Regrinhas simples, de fácil compreensão e execução altamente possível. Menos para a moça que faz faxina aqui em casa. Além de ela ter pendurado todas (ênfase: TODAS) as roupas do lado avesso, ela ainda amontoou oito peças por cordinha (que deve medir um metro). Como se não bastasse, estendeu tudo mal-enjambradamente! Mas o que mais me irritou foi o fato de ter usado pregadores e nas pontinhas das roupas!

Especialmente para você que ainda não conseguiu enxergar o problema, eu explico. As roupas molhadas pesam, fazendo com que a roupa fique mais esticada do que o normal. Na situação ideal – ou seja, quando eu estendo as roupas – isso colabora para que as peças não fiquem amassadas. Na situação moça-da-faxina-amontoando-roupas-no-varal, isso faz com que as pontinhas fiquem deformadas, o que causa uma Kel com um guarda-roupas de peças cheias de pontas! Mais uma vez, ponto para a boa vontade da minha mãe que, para poder ir ao supermercado comigo, quis poupar tempo e pedir ajuda externa.

Em outros tempos, isso seria motivo de uma guerra civil aqui em casa. Mas, nos dias de hoje, como brigar com alguém que saiu do Rio de Janeiro não só para te ver, mas também para tirar das caixas de papelão as coisas que ainda estão lá desde a sua partida para a Italia, quase um ano atrás? Como ficar com raiva de alguém que, durante a tarde enquanto você trabalhava, fez seus dois bolos preferidos? Como se irritar com alguém que, neste exato momento, está sentadinha no sofá de pijaminha rosa, assistindo à Grande Família e comento pipoca Magitlec?

Ai, Mamãe...

domingo, 6 de julho de 2008

I will survive, hey-hey!

Tudo começou com uma tossezinha na quinta-feira. Lembrando da última vez em que tossi – e terminei dois dias depois com Benzetacil na bunda – achei melhor recorrer logo à indefectível colherada de mel com própolis à noite. Mas aí lembrei que não podia: exame de sangue no dia seguinte.

Tinha colocado o despertador para as seis e meia da manhã (“Melhor fazer esse exame logo cedo e poder tomar café de uma vez”), mas muito antes disso já estava acordada. Aquela dorzinha característica nos joelhos e nas costas não era bom sinal. Mantendo meu otimismo peculiar, achei que pudesse só ter dormido de mal-jeito.

Na hora de levantar, o diagnóstico: “É... tá foda”. Coloquei a primeira roupa quente que vi no zoneiro (que aqui em casa não tem esse nome à toa) e me arrastei até o laboratório. Fiz o exame, tomei o café-da-manhã de lá (fatia transparente de bolo, nano-sanduíche e 30ml de tang de laranja) e me arrastei de volta pra casa. Daí para a frente, foi só ladeira abaixo.

Passei o resto da manhã no sofá, saindo dele às vezes para tomar água ou ir ao banheiro. Por volta da hora do almoço fui para o trabalho. Na primeira olhada que minha chefe me deu, disse assertivamente: “Vai embora! Melhor você ir do que ficar aqui me passando essa sua ziquezira!” Não havia como rebater um argumento desses. Me arrastei até em casa e repeti o programão que havia feito de manhã. Só que dessa vez, adicionei alguns MM's de amendoim, já que o Tylenol começou a fazer algum efeito e eu via uma luz (na verdade, parecia mais um led) no fim do túnel.

No fim da tarde, dá-lhe febre! “Garçom, uma dose de Tylenol, por favor. Sem gelo, mas com um copo extra de água.” Dormi cedo, na expectativa de acordar melhor no dia seguinte. O gato que afiava as unhas na minha garganta carregava também a plaqueta escrita ATTEMP FAILED.

Sábado à tarde e minhas perspectivas de sair à noite eram próximas de zero. Para não arriscar a levar a maldita Benzetacil, nem cogitei uma baladinha de leve. Mas não me dei por vencida, e um pouquinho depois da hora do almoço fui a uma festa junina, bem família. Clima ótimo, comida gostosa – eu ainda sentia cheiros e gostos, companhia divertidíssima. Foi o que salvou o fim-de-semana.

Agora, eis-me aqui: chocolate, filme, ainda Tylenol, Namo – que em um ato de heroísmo busca água para mim a cada 40 minutos e não tem medo de ser infectado por esse X-vírus-mutante-Transformer-antiheroe. Domingo de gripe é assim: da corrida em que o Rubinho ganhou nove posições e chegou ao podium (!!!) até o Faustão, você vê de tudo. E a grande notícia do dia é que o termômetro agora marca só 37,2!

Mundo-cão!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O seu vermelho

- Toda mulher tem o seu vermelho. Você só ainda não achou o seu!

E naquele fim-de-semana, ela se obstinou a encontrar o seu vermelho. No sábado, foi ao salão de beleza, que já estava marcado havia três dias. Certa vez, ouvira dizer que “Mulher, quando quer cortar o pescoço, corta o cabelo”. Não era esse o caso, mas uma mudança seria bem vinda. Fez um corte mais moderninho, repicadinho e sentiu-se muito bem, obrigada!

Domingo foi ao shopping, como já havia planejado. Queria um tênis para correr – parte do Projeto Mais Magra 2008. Não comentou nada antes de sair, para não assustar o Namo, que estava indo com ela, mas o segundo objetivo era o vermelho. E isso exigiria tempo e paciência.

- Experimenta alguma coisa!

- Não, não... quero passar em todas as lojas olhando, depois eu volto nelas experimentando...

Passou horas entre sapatos e vermelhos – o pobre Namo ao lado, esforçando-se para conter a síncope. Muito apertado, muito escuro, muito caro, muito seco. Entrou e saiu tanto que até comprou o tênis. Só faltava o vermelho...

Foi às Lojas Americanas, sem pretensão. Uma olhada em volta, e localizou a seção que lhe interessava. Sem chance de experimentar, avistou seu alvo e comprou, sem dó. Ainda esperando a notinha do caixa, abriu seu batom vermelho, novinho, e passou, olhando no espelhinho de bolsa.

- Ai, amei!! Nossa, ficou ótimo com meu cabelo novo!

Sentiu-se linda, afinal, e descobriu que o vermelho de cada mulher imprime nos lábios um quê de... Mulher.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Quinze aos 23

Todo mundo que vira adulto, passa pela adolescência. Olhando para trás, você vê aquela pessoinha de 15 anos, cheia de medos, inseguranças, às vezes baixa auto estima. Você lembra das tantas vezes em que pensou “Será que ele(a) gosta de mim?”, “será que eu gosto dele(a)?”, “é isso, então, que chamam de paixão?”, "e agora?!".

Uns anos depois, você já está mais crescido, talvez já tenha até encontrado A pessoa da sua vida, já mudou várias vezes de opinião sobre tudo. Se acha muito maduro: tem seu próprio emprego, sua casa, ganha seu dinheiro e gasta do jeito que quiser. Vai aonde quer, com quem quer e quando quer.

Um dia, você presta atenção aos irmãos mais novos de seus amigos. Adolescentes. Vê que eles passam pelas mesmíssimas coisas que você passava na sua época. E pensa "que bobagem! Ainda bem que a gente cresce e deixa isso tudo para trás". Você é um adulto bem resolvido agora!

Você só não esperava voltar, um dia, a ter 15 anos. Novamente, as coisas ganham uma proporção muito maior do que têm realmente. As sensações se multiplicam e você quase se sufoca! Frio na barriga, medo (de quê mesmo?), pensamentos como uma panelada de sopa fervendo! Você quer falar, mas não encontra as palavras; quer chorar, mas por quê? Quer sumir, mas o chão não abre, quer esquecer, mas como, se a questão está ali?! Quer diminuir ainda mais, até caber em algum colo quente e confortável. Da mãe, do pai, dA pessoa...

Voltar no tempo assim não é coisa que aconteça toda hora. É necessária uma situação que teste seus limites: da paciência, da capacidade de decisão, da concentração, do controle emocional. Mas o que incomoda mesmo, nesse caso, não é a situação em si, que exige tudo o que você pode - e algumas coisas que você não pode - dar. O problema é ter quinze anos quando ela chega! Onde foi parar aquela pessoa auto-confiante, cheia de si, que fala tudo o que precisa quando precisa? Onde foram parar as palavras, a voz?

Do lado de dentro de você, uma barulheira sem fim! Alguém grita "FALE ISSO", "FAÇA AQUILO", "NÃO PENSE NISSO AGORA", "DECIDA-SE", "CRESÇA"! E você lá, gaguejando... De um jeito ou de outro, a hora passa, você dá um jeito nas coisas, vai para casa. No dia seguinte está até mais leve. É estranha essa serenidade depois do caos de pouco tempo antes. Aí vem também o inevitável "será que precisava daquilo tudo? As coisas funcionam agora... será que não bastava ter esperado a crise passar?" São os resquícios de ter voltado aos 15 anos ainda se manifestando, como o dia seguinte a um ataque de enxaqueca.

Quando todos os sintomas passam, e você volta a ter emocionalmente sua idade cronológica, percebe que tinha que ter sido assim. Nada ia passar se você ficasse sentado esperando, as coisas não iam se resolver, você não ia ficar tranqüilo. E, além do mais, ia ficar arrependido de não ter tomado providências quando podia. No final, se dá conta que só fez tudo do jeito que fez graças à inconseqüência típica dos adolescentes. Enfim, benditos 15 anos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Hoje

Hoje acordei doendo. Mas um pouquinho só. Uma dorzinha sem lugar, aquela dorzinha sem lugar. O dia está nublado, um friozinho... eletricidade estática no ar, pressão atmosférica baixa, minha libido – no sentido amplo, da energia vital – também. As nuvens são completamente diferentes daquelas, mas foram suficientes. Ouvi uma música no rádio. Era diferente, mas também bastou.

O tempo começou, lá pelo meio da manhã, a chover em mim. É uma chuvinha fina, que não molha, mas que entra pelo corpo e chega nos ossos. E em mim, chove dentro. Em algum lugar atrás-sobre-dentro do buraco na minha barriga, perto do estômago.

Uma vontade de ficar pequenininha... de ficar amuadinha, encolhidinha, invisivelzinha e quietinha. Mas não dá. O mundo é agora, como já me falaram, e ele não vai me permitir esse capricho. A aula que não aconteceu urge, comprar uma impressora urge, o estágio urge e eu tenho que atender. Tenho? É, acho que tenho...

Normalmente quero mais: mais tempo, mais dinheiro, mais diversão, mais um monte de coisas. Não estranhamente, agora quero menos. Menos lembrar, menos memórias, menos reviver as coisas mentalmente incessantemente, menos recaídas, menos momentos na cabeça, menos associar, menos.

A dorzinha, identifiquei no carro, é dor de quem-quando-onde-como. Em condições climáticas – de dentro e de fora – adequadas, ela condensa e faz cair a chuva aqui. Quero ir à farmácia e pedir:

- Moço, remédio para aquela dorzinha. Uso externo ou comprimido, até injeção. Tem?

Dorzinha sem-remédio, então. Mais uma vez, dar tempo ao tempo. Dor de quem-quando-onde-como faz parte de uma síndrome, acho. Em alguns dias os sintomas estão mais brandos, em outros...

Engraçado como está tudo apertado hoje. A sala está tão apertada e a moça da limpeza, enorme. Me aperta no cantinho, e eu diminuo. O carro, apertado, o trânsito. Apertadas as minhas roupas. É o buraco por onde transita a chuva... aperta o coração e o resto.

Quero-preciso let go.

Ai, saudade bandida.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Mudernidade...

Dia desses estava na fila do caixa em uma farmácia. A recém-mãe comprando fraldas para o recém-filho. A senhora comprando remédios para gripe e eu esperando pacientemente com meu vidrinho de soro fisiológico.

Daqui a pouco, entra pela porta de vidro um garoto que, pelos meus cálculos, devia ter cerca de oito ou nove anos. Me pareceu muito despachado. Chegou até a beirada do caixa onde eu estava e pediu informação:

- Moça, tem fita pra câmera?

- Que fita? Para qual câmera?

- Aquela fita... pra câmera assim, de tirar foto!

Santa modernidade! Criança que cresce vendo a foto que acabou de ser tirada na máquina digital não sabe nem que a "fita pra câmera de tirar foto" chama-se filme!

sexta-feira, 14 de março de 2008

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Resgatando...

Em 2002 estava ainda na escola. Tinha uma professora de Português fantástica, que sofre de entusiasmo, assim como eu. De gramática, muito pouco, mas de jornal da escola - por quem éramos apaixonadas -, de música, literatura, cultura e arte, um monte! E foi assim que surgiu o texto abaixo, em ocasião da leitura de Noites Tropicais, de Nelson Motta.
Ele foi publicado na Carpe Diem, revista cultural que fazíamos aos trancos e barrancos, e agora o resgato para cá.
Lembrando que a história é verídica!

Tim Maia (virou) meu amigo

“Você é algo assim/ é tudo pra mim/ é como eu sonhava, baby”

O tempo passa, a sociedade evolui e, ano após ano, por volta dos meses de maio e junho, escutamos esses mesmos versos em alguma campanha publicitária, seja ela de Dia das Mães ou de Dia dos Namorados. Quem quiser que chame de brega, mas para mim ainda é música e poesia de muito boa qualidade, originalmente cantada por uma das vozes mais intensas da música brasileira.

Com uma vida tão intensa quanto sua própria voz, Sebastião Rodrigues Maia, nacionalmente conhecido como Tim Maia, foi um grande personagem, também famoso por sua máxima “Mais grave, mais agudo, mais eco, mais retorno, mais tudo!” (que, aliás, são as primeiras palavras do livro Noites Tropicais, de Nelson Motta). Ele era uma figura peculiar no mundo da música: um homenzarrão gordo, negro, espontâneo, que chamava até mesmo seus amigos mais íntimos por nome e sobrenome! E, além disso, era o único a poder oferecer entorpecente (mais especificamente, LSD) ao diretor da gravadora sem ser levado preso, nem sequer demitido!Tendo vivido muitos anos em bairros pobres dos Estados Unidos e lá conhecendo a música soul, fez muito sucesso no Brasil dos anos 80 com as famosas “Primavera” e “Azul da cor do mar”. E é nesse ponto que entro eu na história!

Sendo eu nascida em 1984, era muito pequena quando Tim Maia fazia sucesso. Em minha casa, porém, quando meus pais não estavam trabalhando, sempre se ouvia a voz grave de Tim (e talvez por isso até hoje suas músicas me lembrem manhãs de sábado e de domingo) que, por sinal, sempre me agradou muito. E eu gostava tanto dele que, por um certo tempo em minha vida, meu amigo imaginário era ninguém menos que Tim Maia! Desenvolvemos uma relação tão forte que ele almoçava comigo, brincávamos juntos e, à tardinha, quando minha avó ia me dar banho, era preciso esperar que ele tomasse primeiro! Lanche da tarde e prato do almoço, era um para mim, e outro para Tim Maia! E eu, com minha inocência pueril, perguntava à minha família sempre que o via na tv: “Ele não é bonitinho?” esperando, claro, uma resposta afirmativa. Mas eu cresci, e Tim Maia aos poucos foi se despedindo de mim, até virar o que hoje meus pais contam de nossa amizade.

O verdadeiro Tim Maia morreu em 1998, sem nem desconfiar que tinha sido amigo de uma menininha de três anos de idade, e muito antes que eu pudesse lhe contar, mas deixou como lembrança mais que seus discos com sua “voz de trovão” (como diria outro amigo seu).

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Noção de diversão

É verdade. Dei uma abandonada no blog mesmo. Depois de quase dois meses lutando contra a Infostrada, que "provê" internet para a minha humilde morada (humilde mesmo, sem falsa modéstia), vieram os exames na faculdade, as festas de fim-de-ano, as mini-férias italianas e o blog foi ficando de lado. Na verdade, volto a escrever inspirada pelo blog Championship Vinyl! Aliás, Rob Gordon, deixo aqui registrados meus agradecimentos pela inspiração!
O tema desse post é algo sobre o qual eu tenho pensado há muito tempo nessa minha estada aqui em Bologna. É a tal da noção de diversão das pessoas daqui.
Sábado à noite, dia internacional de sair de casa e se divertir. E aqui não poderia ser diferente. Muita gente nas ruas, uns jovens, outros nem tanto, punk a bestia*, estrangeiros e até uns bolognesi de vez em quando. O pessoal coloca a sua melhor roupa de todo dia (porque se arrumar para sair aqui é coisa de estrangeiro recém-chegado. Ou de fighetto**) e cai na night. É nessa hora que entra em jogo a noção de diversão.
No Brasil, diversão para muita gente (eu incluída) é ir para um barzinho, sentar em uma mesa com amigos e deixar o papo rolar. Ou ir dançar em algum lugar, como alternativa. Achei que fosse consenso mundial isso, mas descobri que estava redondamente enganada. Aqui, a boa é ficar fora dos lugares. Não entendeu? Pois é, difícil mesmo. Funciona assim: você marca com alguns amigos em algum ponto-de-encontro, que pode muito bem ser a Praça do Netuno. Vocês se encaminham para o lugar de destino . Digamos, Via del Pratello, e escolhem um bar. Aí, ao contrário do que fariam se estivessem no Brasil, vocês não entram. Ficam na porta do bar, vão na vendinha mais próxima, compram uma cerveja à temperatura ambiente e ficam ali, bebendo a cerveja do lado de fora.
Para quem freqüenta os bares do Mercado Central, em Belo Horizonte, beber cerveja em pé não é novidade nenhuma. Mas some-se a isso alguns outros fatores e descobre-se que a noção de diversão daqui é o que nós chamaríamos, muito provavelmente, de "programa de índio". Vamos à equação: cerveja fria (porque mesmo estando no inverno ela nunca fica geladinha) + o frio bolognese do alto inverno (que inclui uma umidade horrorosa) + cachorros passando entre as pessoas = cenário do que os bolognesi chamam de "diversão". Bom, né?
Nesses meses que estou morando aqui, acho que me inseri bem na cultura local. Faço compras no Mercato delle Erbe*** (disputando espaço e atenção com as senhoras, ferozes), pego livros na Sala Borsa, achei meu apartamento por meio das paredes da Via Zamboni. Sim, definitivamente, acho que me inseri na cultura.
Porém, amigos, da noção de diversão eu não consegui me apropriar. Talvez seja um traço cultural muito forte, talvez uma mentalidade. Fato é que, diante dessa opção de programa, eu ainda sou brasileira DEMAIS!



*punks acompanhados de cachorros. Muito populares aqui em Bologna, se dividem em infinitas sub-categorias. Dos que são filhos de família classe média àqueles que se diferenciam dos mendigos apenas pela presença do cachorro (a bestia)
** patricinhas e boys italianos
***Mercado de frutas, legumes e verduras da cidade. Tem também algumas banquinhas de queijos e frios, carnes, algumas bugingangas...