terça-feira, 13 de março de 2012

Causa mortis: enfado


- Sabe da Raquel? Morreu.

- Como assim, morreu? Vi ela outro dia, ela tava ótima, feliz, trabalhando em dois lugares! Morreu de quê?!

- Morreu de saco cheio, num engarrafamento.

- ?

- Disse que ela estava indo pro segundo trabalho dela, já de noite, num dia de chuva e de greve de ônibus. Aí, quando chegou na Timbiras com São Paulo, ela demorou 13 minutos pra chegar até a Álvares Cabral, que são dois quarteirões, né!

- Nooossa, e ainda teve que ficar fazendo controle de embreagem naquela ladeira que é quase em pé?!

- Éee! Aí disse que o saco dela encheu tanto que ela acabou não resistindo.

- Caramba, morte horrível!

- É mesmo. Não gosto nem de pensar. Agora ouvi dizer que o corpo dela vai ser levado pro velório de liteira, porque de carro...


*Este texto foi todo escrito (sim, escrito, rabiscado em um caderninho) dentro do carro, com tudo parado no engarrafamento.

3 comentários:

Otavio Oliveira disse...

Uai, morreu mesmo? PRa quem ela vai deixar o cãoze?

Kel Sodré disse...

Uai, ouvi dizer que era pro Otavio Cohen, mas ele mora com um cara chato, um tal de Ismael, que não gosta de cachorro... Aí provavelmente os avós dele vão requerer a guarda.

Fanzine Episódio Cultural disse...

Lágrimas de Areia

Lá estava ela, triste e taciturna.
Testemunha de efêmeros conflitos,
Com um olhar perdido no tempo,
Não exigia nada em troca
A não ser um pouco de atenção.

Sentia-se solitária, oca,
Os homens admiravam-na pelos seus dotes.
As crianças, em sua eterna plenitude,
Admiravam-na muito mais além...
... Mais humana!

De sua profunda melancolia
Lágrimas surgiram.
Elas não umedeceram o seu rosto,
Mas secaram o seu coração,
O poço da alma,
Aumentando cada vez mais
A sua sede.

Lá ela permaneceu; estática, paralisada!
Esperando que o vento do norte a levasse
Para bem longe dali!

O dia começou a desfalecer.
Seu coração, outrora seco e vazio,
Agora pulsava em desenfreada arritmia.
Desespero!
A maré estava subindo...

Em breve voltaria a ser o que era:
Um simples grão de areia.
Quiçá um dia levado pelo vento,
Quiçá um dia... Em um porto seguro.


Do livro (O Anjo e a Tempestade) de Agamenon Troyan

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