sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Noção de diversão

É verdade. Dei uma abandonada no blog mesmo. Depois de quase dois meses lutando contra a Infostrada, que "provê" internet para a minha humilde morada (humilde mesmo, sem falsa modéstia), vieram os exames na faculdade, as festas de fim-de-ano, as mini-férias italianas e o blog foi ficando de lado. Na verdade, volto a escrever inspirada pelo blog Championship Vinyl! Aliás, Rob Gordon, deixo aqui registrados meus agradecimentos pela inspiração!
O tema desse post é algo sobre o qual eu tenho pensado há muito tempo nessa minha estada aqui em Bologna. É a tal da noção de diversão das pessoas daqui.
Sábado à noite, dia internacional de sair de casa e se divertir. E aqui não poderia ser diferente. Muita gente nas ruas, uns jovens, outros nem tanto, punk a bestia*, estrangeiros e até uns bolognesi de vez em quando. O pessoal coloca a sua melhor roupa de todo dia (porque se arrumar para sair aqui é coisa de estrangeiro recém-chegado. Ou de fighetto**) e cai na night. É nessa hora que entra em jogo a noção de diversão.
No Brasil, diversão para muita gente (eu incluída) é ir para um barzinho, sentar em uma mesa com amigos e deixar o papo rolar. Ou ir dançar em algum lugar, como alternativa. Achei que fosse consenso mundial isso, mas descobri que estava redondamente enganada. Aqui, a boa é ficar fora dos lugares. Não entendeu? Pois é, difícil mesmo. Funciona assim: você marca com alguns amigos em algum ponto-de-encontro, que pode muito bem ser a Praça do Netuno. Vocês se encaminham para o lugar de destino . Digamos, Via del Pratello, e escolhem um bar. Aí, ao contrário do que fariam se estivessem no Brasil, vocês não entram. Ficam na porta do bar, vão na vendinha mais próxima, compram uma cerveja à temperatura ambiente e ficam ali, bebendo a cerveja do lado de fora.
Para quem freqüenta os bares do Mercado Central, em Belo Horizonte, beber cerveja em pé não é novidade nenhuma. Mas some-se a isso alguns outros fatores e descobre-se que a noção de diversão daqui é o que nós chamaríamos, muito provavelmente, de "programa de índio". Vamos à equação: cerveja fria (porque mesmo estando no inverno ela nunca fica geladinha) + o frio bolognese do alto inverno (que inclui uma umidade horrorosa) + cachorros passando entre as pessoas = cenário do que os bolognesi chamam de "diversão". Bom, né?
Nesses meses que estou morando aqui, acho que me inseri bem na cultura local. Faço compras no Mercato delle Erbe*** (disputando espaço e atenção com as senhoras, ferozes), pego livros na Sala Borsa, achei meu apartamento por meio das paredes da Via Zamboni. Sim, definitivamente, acho que me inseri na cultura.
Porém, amigos, da noção de diversão eu não consegui me apropriar. Talvez seja um traço cultural muito forte, talvez uma mentalidade. Fato é que, diante dessa opção de programa, eu ainda sou brasileira DEMAIS!



*punks acompanhados de cachorros. Muito populares aqui em Bologna, se dividem em infinitas sub-categorias. Dos que são filhos de família classe média àqueles que se diferenciam dos mendigos apenas pela presença do cachorro (a bestia)
** patricinhas e boys italianos
***Mercado de frutas, legumes e verduras da cidade. Tem também algumas banquinhas de queijos e frios, carnes, algumas bugingangas...

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