- Grummhpf
- Ai, Mozão, você é lindo! Obrigada! Agora boa noite.
Dormi e sonhei a noite inteira com motos, andar de moto, conversar sobre moto etc etc etc. Acordei cansada, mas cheia de disposição para ir à feira*. Marquei com uma amiga minha, armei com o Namo toda a estratégia de guerra para ele pegar meu carro e me deixar lá. Quando ele fosse me buscar, compraríamos os ingressos para o espetáculo de dança da noite. Eu não podia ir sozinha por dois motivos: 1) não é possível encontrar vagas para estacionar o carro a menos de um quilômetro e meio da feira e 2) era fundamental que os três comprássemos os ingressos juntos por uma questão de carteirinhas de estudantes, lugares juntos, melhor posição dentro do teatro... E, assim, ficamos combinados que eu ligaria para ele na hora em que estivesse pronta para ir embora.
Algumas horas depois, minha amiga e eu já havíamos encontrado de tudo: bolsa, sandália, outra sandália, outra ainda, Fábio Martins** com sua Senhoura passeando na feira (juro!), e nada de sapatinho, nem de carteira vermelha, que era o que tínhamos ido comprar. Decidimos, então, ir para o Palácio das Artes, para os ingressos, mas descobrimos que a bilheteria estava fechada e só abriria às 14h. A essas alturas, eu já havia ligado para o Namo, que já tinha até estacionado o carro e só não estava vindo nos encontrar porque eu já o havia dito que não poderíamos comprar os ingressos naquela hora. Minha amiga foi embora, e eu ainda girei um pouco por lá, na esperança de achar a bendita carteira. Por isso, me atrasei (muito) para ir encontrar o Namo, que já estava furibundo.
Subindo a Afonso Pena, uma senhora olha para trás, na minha direção.
- Você tá indo pra onde??
Sem saber se a senhora era estrábica e estava falando com a pessoa que estava atrás de mim, ou se era comigo mesmo, olhei em volta, para todos os lados.
- ? ... Eu?
- É, você!
- ... Estou indo ali para cima...
- Ah, eu também. Você que é nova pode ir correndo. Meu joelho já não agüenta mais isso, não.
Sendo assim, continuei... Estava realmente andando rápido, consciente que qualquer minuto mais cedo que chegasse até o Namo, seria um centímetro a menos de tromba para encarar durante a tarde.
Quando parei na esquina em que havíamos combinado de nos encontrar, nada de Namo. Liguei para ele e descobri que ele estava com o carro estacionado um quarteirão acima daquele ponto.
- Então vem para cá, Mozão, porque aqui é caminho mesmo...
- Gruarrrr
E estava eu lá, bonitinha, paradinha, quando de repente, não mais que de repente, ouço:
- Ué, parou???
Era ela, a mulher de dois quarteirões antes.
- É... a pessoa ainda não chegou para me pegar...
- E você está indo para onde??
- Uai... Daqui vou para a minha casa...
- Ah... ... ... E você vai subir aqui???
- Ahn... Não sei... Preciso ver com o rapaz que vem me buscar... (realmente não sabia, estávamos indo para a casa do pai dele)
- Me dá carona? Quando eu estiver de carro eu te dou! (Nota da autora: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
- Olha... vou ver com ele... Se a gente for por esse caminho, eu dou..., falei, esperando que o Namo dissesse simplesmente que não, ou que seguisse por um caminho diferente, que não passasse por onde ela queria.
Dois minutos depois e vejo aquele carrinho sujo, empoeirado, cagado de passarinho. Reconheci Zé Bento (sim, meu carro também tem nome) de longe: "É ele". Imediatamente após ele ter estacionado, a senhora se jogou com meio corpo para dentro da janela do carro, perguntando se nós iríamos subir a Afonso Pena e pedindo carona como se nos conhecesse há anos!
- Claro, entra aí! Na verdade, eu ia seguir a Alfredo Balena, mas não tem problema, não. (Nota da autora: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
E ela entrou, com suas vinte e três sacolas plásticas, seus tênis, sua calça de ginástica e seus cabelos tingidos de louro, no banco de trás do Zé Bento. Em aproximadamente quatro minutos, que foi quanto durou o trajeto, ela nos contou sua vida inteira:
Mãe-de-três-filhos-dois-formados-uma-publicitária-desempregada-que-estava-em-dúvida-entre-fazer-uma-pós-no-exterior-ou-prestar-vestibular-para-Medicina-o-pai-disse-que-paga-particular-então-faz-minha-filha-sabia-que-quem-é-formado-em-educação-física-já-entra-no-segundo-ano-de-Medicina-nessa-faculdade?-então-tá-obrigada-tchau-viu!
Oito letras para essa cena: SEM NOÇÃO!
Meio atônitos, Namo e eu seguimos nosso rumo, eu ainda tentando convencê-lo de que os bombons que eu havia comprado para ele eram motivo suficiente para ele desculpar meu atraso/erro de cálculo, e ele resmungando/rosnando/reclamando/choramingando.
A notícia "boa" era que ainda teríamos que voltar naquele mesmo cenário hostil dali a cerca de três horas para comprar os ingressos para o espetáculo que queríamos assistir à noite.
tobecontinued...
*Para quem não conhece, BH tem uma enorme feira de artesanatos todos os domingos, em que se pode encontrar de móveis para casa a sapatos. De acarajé a bombom hidrogenado. De brinquedo educativo a carteiras. De quadros de gosto duvidoso a bijouterias de prata peruana...
** Fábio Martins é um professor do Curso de Comunicação Social da UFMG que deve ter, atualmente, por volta de seus 75 anos. Ele foi aposentado compulsoriamente da Universidade, mas continua trabalhando como Professor voluntário. Breve descrição: cabelo branco -amarelado, barba bem feita, voz de locutor (ele é o antológico radialista que soube do Golpe de 64 na véspera!), calça social clara, camisa social de manga curta listrada e sapato social marrom.
5 comentários:
Me dá carona? Quando eu estiver de carro eu te dou!
certamente uma experiência antropocomunicobloguística.
acontecem às vezes. eheheh
vide rob gordon!
Jesus, e eu me julgava sem noção! Essa velha deve ser parente!!!
hahahaha... morro de medo!!! Tá parecendo com a pedinte de outro dia, quando Fábio e eu estávamos numa lanchonete. Ela pediu dinheiro e disse que não queria comida. Quando dissemos que íamos pagar no cartão, ela simplesmente pediu/ordenou/intimou que comprássemos uma coisa de comer para ela. Fazer o que? Demos um misto quente. De gente assim, doida, o mundo tá cheio... rs
Tenho pavor da feira Hippie!
Gente te olhando estranho, mulheres batendo sacola em suas pernas, menino pedindo brinquedo e pai negativando o pedido, fumaça de churrasquinho de boi empregnando em sua roupa...
Bom, tirando o acarajé de Minas (Pq da Bahia não tem nada) eu não gosto dali nem fufu.(desculpem o palavriado, mas eu no posto de Namo com a cara de bravo que tenho -tem nada- posso falar.)
Abraços aos leitores
KKKKK
"... e pai NEGATIVANDO o pedido"
hahahah
Você e sua linguagem de telemarketing!..
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