sábado, 23 de agosto de 2008

Do findi (de um mês atrás) e outras coisas

Primeiramente, sinto-me na obrigação moral de me desculpar com vocês, leitores, pela ausência nas últimas semanas. Término de férias e volta às aulas é sempre um período para exercitar nossa habilidade de gestão de crises na Federal. Entre optativas, seminários de habilitação e projeto e (malditas) eletivas, terminei o período de matrícula com o seguinte cronograma:

Segunda-feira 08:00 – 12:00 > Bidimensionalidade I na Belas Artes (dedicarei um post especialmente a isso posteriormente)

Terça-feira 07:00 – 08:00 > Vou correr na rua (Projeto Corpão 2008)

09:10 – 11:10 > Seminário de pré-projeto

Quarta-feira 08:00 – 11:40 > Laboratório Outro Sentido (espécie de estágio supervisionado da Comunicação onde aprendemos a fazer uma revista e escrever para ela)

Todos os dias à tarde > Estágio

A bem da verdade, é a vida que pedi a Deus. Mas para chegar até aí, foram longas horas choramingando na frente dos colegiados.

Uma coisa que se intensificou na mesma proporção em que os posts diminuíram foi minha vida cultural. E aqui reencontramos aquele fim-de-semana de mais de um mês atrás. O mesmo em que eu fui a um encontro do clube de motos de que eu e o Namo fazemos parte (leia aqui) e em que fui à feira e tive que dar carona para uma completa desconhecida cara-de-pau (e aqui).

Após todas as confusões para comprar os ingressos, o Namo, minha amiga-fiel-escudeira e eu finalmente conseguimos nossas entradas para o espetáculo da Mimulus Companhia de Dança. É um grupo de dança de salão de Belo Horizonte, que tem uma linguagem super moderna, além de ter o corpo de baile composto por pessoas jovens, desmistificando a imagem da dança a dois. Pois bem, fomos vê-los.

O espetáculo era inspirado no universo do Almodòvar, o que já garantia um clima ótimo. Além disso, a trilha era toda retirada dos filmes dele, então não poderia dar errado. Para completar, o cenário e o figurino eram ma-ra-vi-lho-sos!!! Isso sem falar na iluminação de cair o queixo! Some-se a isso bailarinos com uma capacidade técnica extraordinária e uma linguagem de dança-de-salão inovadora e tem-se uma pálida idéia do quão boa foi a apresentação. Twist dançado com música eletrônica, boleros com Cucurucucu Paloma cantada por Caetano Veloso e tangos apaixonados e vibrantes fizeram uma hora e meia passar como uma brisa. O ponto alto, na minha opinião, foi uma coreografia dançada por dois homens, representativa das relações homossexuais dos filmes do diretor espanhol. Sensualidade, comédia, drama, angústia, dilemas, tudo na medida certa. Por falta de uma palavra melhor, digo que o espetáculo da Mimulus foi SENSACIONAL! Recomendo.

Depois veio o show com Chico César. Lindo! Também no Palácio, mas dessa vez, na sala Juvenal Dias. A proposta era fazer um show mais intimista, em que ele pudesse cantar, ler algumas das poesias de seu livro e contar um pouco de sua história, sempre com a interação do público. Músicas mesmo foram só umas cinco, e não mais que três poemas. Mas tudo durou duas horas e dez. Chico César, vestido com uma calça de pano de toalha de piquenique (quadriculadinha de vermelho e branco) e uma camisa listrada de rosa e branca, relembrava os casos de quando era pequeno, lá em Catulé do Rocha, e de sua passagem por João Pessoa e São Paulo. Contava tudo como se nos conhecesse há anos! Saí do teatro com uma vontade enorme de chegar na primeira loja de discos que visse e falar “Moço, me dá tudo o que você tiver de Chico César”! Obviamente, minha condição de estagiária não permite, e tive que me contentar com baixar “Odeio Rodeio” (que você pode conferir abaixo) na internet.

O outro evento cultural phoda desse período foi o show do Luiz Melodia a R$ 10. Ele chegou, lindo de terno branco e sapato bicolor, com seus dreads meio amarrados no alto da cabeça. Cantou os maiores sambas das décadas de 20 e 30 com aquela voz aveludada que lhe é peculiar. Lá pela metade do show, nos deixou em companhia de sua banda, excepcional, e fez uma pausa para ir ao camarim. Duas músicas depois, voltou ainda com a calça do terno branco, mas com uma camisa de seda estampada e sandália de couro branco, ao melhor estilo bicheiro. Daí para a frente foram só sambões dos anos 50 e 60. Começou a cantar “Neguinho mostrou a barriga pra madame”, e abriu a própria camisa, totalmente à vontade. Carismático e sambando como eu nunca havia visto alguém fazer na vida, saí do teatro absolutamente encantada, hipnotizada! O Negro Gato, a Pérola Negra e a Magrelinha não compareceram, mas já era de se esperar: “é um show exclusivamente de sambas”, ele disse. O único inconveniente foi a falta de espaço para sambar. Me segurei fortemente até o finalzinho, mas quando aquela negona parruda subiu no palco, sambando majestosamente e cantando com uma voz que parecia vir de deus, cedi. Me levantei e dancei. Dancei muito, até ficar suada.

Ontem foi a vez de Toquinho, com o show comemorativo dos 50 anos de Bossa Nova. Uma fórmula que não tinha como dar errado! De fato, mais uma hora e meia da minha vida que eu nem vi passar, tamanho era o prazer envolvido na situação. Como diz Rob Gordon (com relação a objetos musicais diferentes, obviamente), quando ele terminou de tocar a primeira música – Tarde em Itapoã – eu já queria ir lá fora e comprar outro ingresso, porque o que eu havia comprado já tinha sido gasto só naquela música. E depois, Chega de Saudade, A Casa, O Caderno... Não preciso nem dizer que teve Aquarela – minha música preferida since ever – mas é importante notar que Regra Três ficou de fora do repertório. Ele não poderia tocar TODOS os seus sucessos... certo? Mesmo assim, Toquinho está perdoado: terminou o show com Trem das Onze e fez dois bis! Foi tão bonito que chegou a doer.

E assim passei minhas últimas semanas, leitores. Entre aulas, estágio, desenhos, intensivão de circo, vida de semi-casada com meu Namorido, shows maravilhosos, despedidas e reencontros. Sem grandes dilemas e aceitando muito mais as coisas com as quais estive lutando nos últimos meses. Feliz, muito feliz!

3 comentários:

Ruleandson do Carmo disse...

"basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo, e se a gente quiser, ele vai pousar..."

Kel Sodre disse...

Ai, tudo de lindo essa música! Quando ouço, meu coração até dói, lá no fundo!
Mas minha parte favorita é
"E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar".

Otavio Cohen disse...

nossa, fim de semana sensacional.
ia ter q fazer um comentário por evento, já que fiquei com inveja d vc por quase todos eles.

prncipalmente o toquinho. como eu mesmo disse ainda ontem em um bar ouvindo um repertório fantastico "queria morrer ouvindo bossa nova..."