sábado, 12 de novembro de 2011

Otimista até o osso

Minha vida está uma merda. Mas eu não acho.

Estou desempregada; fazendo uns trocados dando aula de reforço pra uma menina de 10 anos; dando um tempo num namoro de sete anos; longe da minha família; tentaram envenenar meu cachorro pela quarta (repito: quarta) vez; não consigo ter disciplina pra fazer uma dieta de três semanas e emagrecer os três quilos que estão me incomodando desde janeiro; meu e-mail só recebe spams; descobri que nem para dona-de-casa sirvo, porque passo os dias inteiros enrolando no computador e faxina, que é bom, nada. Isso já dura três meses.

Mas só percebi a fase urucada em que eu estou anteontem, quando ouvi minha mãe me falar ao telefone “acho bom este ano acabar rápido, porque ele não está bom pra você, não”. Foi só aí que enxerguei que estou na merda. O que estou estranhando é que enxerguei isso como se fosse alguém de fora, como se esses problemas todos não fossem problemas de verdade, ou como se não fossem meus. E aí concluí que estou numa fase de ver o copo cheio.

Estou desempregada, mas recebendo salário desemprego (não é o ideal, mas dá pra pagar o supermercado); nas aulas particulares, relembro um monte de coisas que é sempre bom saber; o tempo no namoro está sendo precioso para eu me conhecer melhor e me relacionar melhor com o mundo; como não tenho compromissos fixos na cidade, posso ir frequentemente passar uns dias com a minha família; não emagreço, mas estou me achando bonita mesmo assim; meus e-mails só recebem spam, mas tenho conversado com muita gente pelo Gtalk; vou contratar uma faxineira com a grana das aulas particulares pra resolver o problema da faxina.

A princípio, então, está tudo ok. Fora o estranhamento de estar me sentindo bem com a vida na lama, tudo ok.

Neste mundo em que reclamar – principalmente nas redes sociais, pra todo mundo ver e palpitar – virou moda e onde as pessoas competem quem tem a vida mais cagada, eu não tenho medo de assumir: tá uma merda, mas tá bom. Porque cada célula do meu corpo é otimista.

4 comentários:

Sílvia Amélia disse...

"(...)o Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, muidinho, não se importando demais com coisa nenhuma."
guimarães rosa

amo este trecho!

Kel Sodré disse...

Miguilim é lindo! E tem algumas pessoas às quais eu associo o livro. Uma é você, Sílvia, a outra é uma ex professora (que também acabou virando minha amiga, olha que coincidência!) de Português da escola. Ambas pessoas com um brilho que vem de dentro e que têm uma história especial com o interior dessas Minas Gerais.

Unknown disse...

Quem bom que você encara com otimismo os problemas. Posso te ajudar em duas coisas: mandar e-mails que não são spams e envenenar o envenenador do Otelo, assim que eu voltar. Adoro esse cachorro. kkk

Lu disse...

Poxa, Kel! Te admiro! É preciso ter muita força mesmo para enxergar a vida com essa positividade, quando muita gente fica de mau humor só de ter que dar passagem a outra pessoa na rua.
E, sobre o envenenamento, vc tem ideia de como estão fazendo isso? Tem que denunciar!
Beijão pra vc! Pode contar com o Fábio e comigo!